domingo, 31 de janeiro de 2010

DEUS É GATO


A Comunidade Astrofísica tem rejubilado com as últimas fotos da Nebulosa Pata de Gato, um ninho de estrelas próximo do centro da via láctea. A nebulosa fora descoberta em 1837 por um astrónomo, na África do Sul.

Está provado. Deus deixou a sua assinatura, e Deus é um gato (ou gata, como a deusa egípcia Bastet). Caprichoso, narcísico, curioso, independente, arisco, letárgico.
Está tudo explicado.

O deus-gato também é irónico: nos concursos para as auto-estradas, o preço subiu 700 milhões de euros na fase da BAFO, best and final offer, com os 2 melhores concorrentes a melhorar a proposta.
Pensava eu que oferta final e melhor era mesmo isso, a melhor oferta. Nãããã.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

SOQUETE



O Gouveia - o que prometeu umas fotos, esse - mimou-nos com um sketch do herman.
Decidi voltar 19 anos atrás - lembram-se do estreante J. Rodrigues dos Santos a relatar (encher chouriço) durante horas a invasão do Iraque? - e repescar o meu cromo preferido, que falava no Nuno Rogeiro (sabe de tudo um pouco) e no Álvaro Cunhal (não interessa a pergunta, responde o que quer).
Não encontro o 2º favorito, um Gilberto Lalande, que nascera em Loulé e vivia nas Laranjeiras, mas não dizia os "eles".

CARTILHA MATERNAL


Há dias, em Valongo, perguntei a uma senhora onde havia um supermercado, ficando a saber que havia “um éclair” logo ali… a dita deve ter entendido o meu sorriso aberto como uma felicidade extrema em encontrar um Leclerc.

Entre os defeitos desta alma pecadora está a urticária quando ouço morteiradas na gramática. Embora com a idade tenha mais recato, pois às vezes as pessoas ficam ofendidas, não costumo resistir a corrigir erros de gente conhecida.
Espero sempre que, como eu, prefiram que alguém avise caso se enganem: desde o dia em que apresentei uma tese, nunca mais escrevi 'descriminar' com e, que o corrector automático aceita - fabulosa ferramenta, evita meio mundo de mostrar as falhas do nosso ensino -, mas significa absolver, em vez de elencar.

No Cartaxo, além do corrente mêpai e ‘nhamãe (não conta, é dialecto), há o hábito de dizer-se quaisqueres, hades e hadem, em vez de quaisquer, hás-de e hão-de, erros que 2 ou 3 amigos benevolentes abandonaram por eu os melgar, sem se chatearem com o sermão.

Há um (ainda hoje) amigo do peito, em particular, que sofreu as minhas malfeitorias (à pala disso, tenho mais uma semana no purgatório): escrevia-me do colégio interno, e eu assinalava os erros, que eram bastantes. O meu preferido era “estou a escrever no çalam” (salão), o que terá algo de galaico-português, quem sabe...

O erro escrito mais comum é a troca do acento no a, que já me aconteceu neste blogue (como foi num comentário a um post, não foi possível alterar). Grrrr.
Usa-se acento agudo (´) para vogais abertas e grave (`) só em contracções com a ou o, ou seja, o acento grave só se usa em formas contraídas, em geral da preposição a com o artigo definido a (foi à porta, está à frente na sondagem) ou com um pronome demonstrativo começado por a (vai àquele sítio, seu presunçoso com mania que dá lições de português!!!).
Ficam aqui as minhas sinceras desculpas pelo lapso.

domingo, 24 de janeiro de 2010

O meu candidato a Presidente da República



Presidente da AMI
"A Pobreza em Portugal é uma vergonha"
Fernando Nobre quebrou o "politicamente correcto" que está a marcar o Congresso da Ordem dos Economistas. O presidente da AMI fez um discurso inflamado, provocando uma plateia cheia de economistas, que também são actuais e ex-responsáveis políticos, gestores e empresários, conseguiu palmas da plateia e introduziu um sentimento de urgência e indignação que, até esse momento, esteve ausente do debate.
Fernando Nobre, fundador e presidente da AMI, quebrou o politicamente correcto que marcou o debate de dois dias na 3º Congresso da Ordem dos Economistas sobre a Nova Ordem Económica. Nobre fez um discurso inflamado, provocando uma plateia cheia de economistas, que também são actuais e ex-responsáveis políticos, gestores e empresários, conseguiu palmas da plateia e introduziu um sentimento de urgência e indignação que, até esse momento, esteve ausente do debate. “É uma vergonha a pobreza que temos em Portugal”. “Não me falem com os problemas de aumento do salário mínimo. Quem é que aqui nesta sala consegue viver com 450 euros?”. “Não me venham com cirurgias plásticas para as mudanças que vão acontecer no mundo. Nós, os cidadãos não as vamos aceitar”, foram algumas das frases que deixou aos economistas presente. Nobre, que também é médico e professor, interveio num painel que abordou o papel das organizações não governamentais (ONG) na nova ordem económica mundial defendendo que além do seu papel no apoio à sociedade e de compensação por falhas dos governos, as ONG têm um papel essencial na denuncia de injustiças e desequilíbrios, e na pressão para que o mundo possa mudar. E foi isso mesmo que fez.
O presidente da AMI diz que “em Portugal é preciso redistribuir melhor a riqueza”, que “há dezenas, senão centenas de milhares de jovens a sair de Portugal porque perderam a esperança”. Inconformado, disse que “combater a pobreza é uma causa nacional”, e salientou: “Não me venham com os 18% de taxa de pobreza, porque se somássemos os que recebem o rendimento social de inserção, os que recebem o complemento solidário para idosos, os que recebem o subsídio disto, e o subsídio daquilo, temos uma pobreza estrutural no nosso país acima dos 40%”. “Não aceito esta vergonha no nosso país” O nível de desemprego, as baixas reformas, a precariedade dos contratos de trabalho foram outras áreas que lamentou. Os empresários também não foram poupados. “Quando vejo a CIP a defender que o salário mínimo não aumente não posso concordar. Que país queremos? Quantos de nós aqui conseguiriam viver com 450 euros por mês?”, perguntou à audiência, deixando depois um repto aos empresários: “Peço aos empresários para serem inovadores, abram-se ao mundo, sejam empreendedores”.
“É o momento de repensar que mundo queremos”, e recorrendo à frieza com que os médicos olham para a vida afirmou: “eu sei como vou morrer, sem como todos aqui vão morrer. E não é nessa altura, não é quando começarem a sentir a urina quente a correr pelas coxas, que vale a pena repensar a nova ordem económica mundial. È agora”. As futuras gerações não vão perdoar, diz. Sobre o estado das economias, salientou que não é economista, mas avisou para os riscos que pendem sobre as economias e que os economistas presentes não abordaram: o risco de um crash obrigacionista, a falência de fundos de pensões pelo mundo, os milhões investidos em produtos derivados. “Não é razão para cedermos a paranóias, mas é preciso questionar se as economias capitalistas estarão à altura do desafio”, disse, acrescentando: “É precisa prudência, bom senso e cuidados com os cantos da sereia”.
E voltando aos seus conhecimentos médicos terminou dizendo: “Perante uma hérnia estrangulada, um médico só pode fazer uma coisa: operar imediatamente. Ora a hérnia já está estrangulada [na ordem económica mundial]: nós temos que operar, temos de mudar as regras, os instrumentos. É preciso bom senso, acção, determinação política”, disse, avisando: “se não o fizermos as próximas gerações acusar-nos-ão, com razão, de não assistência a planeta em perigo”.
Rui Peres Jorge- Jornal de Negócios
rpjorge@negocios.PT

Pedro Mendonça

sábado, 23 de janeiro de 2010

Centenário da República


A nova Praça do Comércio é a principal obra que assinalará o centenário da República (o porquê ninguém sabe).
Será inaugurada em Maio pelo último monarca absolutista europeu e que ali realizará um comício ritualizado para a sua gente.
Somos Cidadãos, Não somos súbditos. Não deveria ser isto que deveríamos estar a comemorar?
Haja decoro...

Pedro Mendonça

BISBILHOTICES


Tenho uma estante preferida na FNAC, com biografias e ficção histórica baseada em factos reais.
Por esse prisma, concedo que sou um bisbilhoteiro, interessa-me a vida dos outros.
Uma das coisas mais interessantes é ler vários livros sobre a mesma criatura e ver como somos condicionados pelo biógrafo ou pelo escritor: diferentes autores dão-nos versões distintas, quando não antagónicas, das pessoas.

Agora aconteceu-me com a história de Joana a louca, que conhecia como uma lunática, rainha espanhola que nunca chegou a reinar - o trono passou da mãe Isabel a católica para o filho Carlos I.
A minha Joana é algo histérica, raramente trocava a roupa e tomava banho, mas era lúcida, teve consciência como foi manipulada pelo marido, pelo pai e pelo filho, enclausurada no castelo de Tordesilhas, isolada da sua nobreza e do seu povo – 46 anos de prisão domiciliária.

Acontecera-me o mesmo com Carlos o belo: ora um rei competente que aumentou a França, ora um fraco que foi usado para acabar com os templários.
Pano para mangas é a história das amantes de Luís XIV (Valliére, Montespan e Maintenon) ou de Luís XV (Pompadour e du Barry*): ora conhecemos uma meretriz interesseira e cínica, que se intrometia no Conselho de Estado, ou imaginamos uma mulher sofrida, amante da arte e dos ideais republicanos, que aconselhava o rei de forma sensata.
Depende do livro e da perspectiva do escritor.

Moral da história: particularmente em tempos menos documentados, a(quela)s criaturas são o que escreveram delas, são o que ficou registado e da perspectiva de quem o registou.
Somos o que dizem de nós, e nem todos dizem o mesmo: uma pessoa pode ser determinada para uns e obcecada para outros, prudente ou insegura, tímida ou antipática.
Até o maior sacana tem amigos que lhe reconhecem alguma virtude. E vice-versa.
Imaginem que robin dos bosques era conhecido pela pena do xerife de nothingham: um reles ladrão que seduzia donzelas.

* guilhotinada, as suas últimas palavras corajosas foram “por graça, senhor carrasco, só mais um momentinho”. Frase tão deliciosa como aquela (injustamente) atribuída a Maria Antonieta “o povo não tem pão? Comam brioches”.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

I REST MY CASE


Fui há 1 ano testemunha num processo onde aprendi coisas simples: o juiz acredita mais num mentiroso com o testemunho decorado e sem hesitações, que numa pessoa de boa-fé que revele indecisões de memória.
E o resultado depende mais da concentração, esperteza, conhecimento dos rodapés da lei e uso de manobras dilatórias dos causídicos, que da razão dos peticionários.
Tenho para mim que ganhou quem não tinha razão e quem jogou mais baixo, mas isso é outra história.

Hoje sonhei que fui novamente a tribunal, em torre de moncorvo.
A primeira ironia do meu sonho é que se chamava processo sumário ao julgamento de factos ocorridos há 5 anos. Caso: fulano tenta safar-se a coima relativa a 20 infracções funcionais e 15 alterações ao projecto aprovado, depois de ignorar ostensivamente notificações oficiais. Que sonho esquisito.

Primeiro a advogada do arguido pediu o adiamento da audiência, porque uma testemunha estava doente - indeferido.
Depois baseou a inquirição em levantar dúvidas com perguntas muito precisas sobre o que assitira há vários (do género, que tipo de balde era? e a cor?), em cortar respostas que prejudicavam o seu patrocinado (isso não interessa, não está no mesmo ponto ao auto, ainda que seja sobre o mesmo assunto) e, finalmente, nas vírgulas da acusação.

É isso, em tribunal não contam as acções, mas as pontuações. Não é justiça, é semântica.

A procuradora fez uma única pergunta (mantém o que escreveu?) e a juíza colocou outra questão, cuja resposta teve dificuldade em entender. Vá, compreendo, a meritísssima não é obrigada a conhecer o ramo.
Já na rua, a simpática advogada da defesa explicou-me que estava a correr bem, conseguira anteriormente anular metade da acusação e percebera que a juíza acolhera hoje a sua argumentação em mais 2 infracções (e não por serem mentira) e ainda ia conseguir anular mais outras, durante o processo, restando umas poucas que não tinham volta a dar; de todas as multas que a (muy rica) arguida pagou, a mais alta foi de 25€.
Cereja no topo do bolo, assegurou que quer a procuradora, quer a juíza, nem sequer tinham lido o processo.

Não sei como é que um sonho é tão detalhado, mas eu interrompera o meu trabalho e voara 90 km para assistir à chamada da escrivã às 14 horas. Fui chamado depois das 15 e, a meio da segunda inquirição – que acabou às 16 horas – a juíza decidiu marcar nova data para ouvir as 2 restantes testemunhas, porque “se calhar já não dava tempo”.
Depois acordei.

Vi há dias um programa da TVI notícias: F. José Viegas insurgia-se com os alertas meteorológicos quase diários, outro Francisco preferia com ironia alertas na justiça: “um alerta amarelo quando um processo esta parado 3 meses, alerta vermelho quando 1 processo está parado 6 meses, um gajo fuzilado num qualquer pátio quando o processo está parado 1 ano”.

sábado, 16 de janeiro de 2010

VAI PARA A TUA TERRA


Acabei de ler a entrevista do grande Mário Crespo, um conservador heterodoxo como eu não me importava de ser.
Gostei particularmente da parte onde relata a saída intempestiva do Ultramar e do seu “ainda hoje não gosto de bagunça”.
Identifiquei-me com a sua história, existe uma espécie de espírito de grupo.

Sou o que se chama um retornado.
Em miúdo ouvi muitas histórias de gente, como os meus pais (nativos de Angola) e avós, que tiveram que desarmar a tenda de repente: olha, pega na trouxa e desaparece. Deixas o emprego e a casa (com sorte, levas o recheio e o carro) e vai-te embora! Chegas a Lisboa, arranjam-te uma pensão e vais para a bicha da roupa e dos cobertores dados por uma coisa chamada IARN (instituto de apoio ao regresso de nacionais*). Ah, o dinheiro que levares não vale nada**!

Com pena minha, esqueci as histórias quase todas (lembro que o meu pai recusou um Alfa que um gajo com um stand ofereceu, não o conseguia trazer) e gosto de ler relatos como o desta entrevista.
Imaginam meio milhão de pessoas em migração/exílio – uma debandada, quando não uma fuga – expulsas da terra onde nasceram e mandadas para outro “clima” (em todos os sentidos), para uma terra que mal - ou sequer – conheciam? Esses não foram recambiados para a “metrópole”, porque nunca lá tinham estado.

A integração até foi bem sucedida e todos refizeram a vida, mas fica nuns a saudade, noutros um sentido de injustiça pelo corte quase epistemológico nas suas vidas - que eram boas, as pessoas eram felizes.
A maioria acha que a descolonização foi apressada e sem aviso, o poder vigente – marcadamente ideológico – não cumpriu o que prometeu à maralha e não acautelou o processo de passagem de poder. Mais, não só depôs armas, como ainda apoiou movimentos de libertação em detrimento de outros. Houve um sentido de abandono.
Tudo isso burilado explica o asco da maioria deles por Mário Soares, julgo que então ministro dos negócios estrangeiros, a quem se atribuem responsabilidades.
E explica que o CDS tenha subido dos 7 para uns míticos 16% em 76. Como bom chefe-de-família, o meu pai disse à minha mãe "tú vais votar neste", motivo suficiente para ela se tornar eleitora do PSD...

Acontece ainda que os retornados era muita gente (por defeito, 6% da população nacional e 11% em Bragança), com camaradagem e iniciativa, mais desempoeirada - porque mais longe da saia de Salazar - e nem sempre foi bem recebida pelos portugueses de primeira, que ou os achavam exploradores de pretos, ou achavam que vinham partilhar o bolo.

Vim de lá com quase 4 anos, não me lembro de nada e, por isso, não tenho nostalgias. Essa parte da história familiar raramente me ocupa a cabeça.
Sempre que o faço, lembro-me dum "caro colega" (termo algo usado na minha classe profissional) que, na brincadeira, nos chamava portugueses de segunda.
Não levava a mal. Não tenho qualquer ressentimento ou vergonha, apenas muito respeito por quem, com a minha idade, teve que começar tudo de novo, assim-num-repente. É coisa que me ia custar...
Como disse uma vez Marques Leandro (ex-secretário de Estado), essa gente substituiu o estigma de retornado em título de que muito se orgulham.

Não posso acabar sem declarar que eu sou a favor das independências dos “países-irmãos”. Sem hesitação alguma.

* Com Director, subdirector e 3 vogais e um conselho consultivo com uns 10 vogais. Agora a graça é que não eram pagos - eram outros tempos, onde é que isso se via agora?
** Lembro-me dum molho de notas angolanas, que ainda existe algures guardado. Simplesmente, dum dia para o outro, perderam o valor comercial.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

LÁ ISSO...

90 pessoas com H1N1 e todos devem usar máscara;

5 milhões de pessoas com HIV e ninguém é obrigado a usar camisinha;

1000 pessoas morrem de gripe num país rico, é uma pandemia;

morrem aos milhões de paludismo em África, é problema deles.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

FORÇA MURAL









António Saraiva é o novo presidente da CIP. Que há de especial com o novo patrão dos patrões?
Começou como sindicalista na Lisnave.
Helena André é Ministra do trabalho. Que há de especial? Entrou para a UGT em 1981, trabalhando como sindicalista (vá, burocrata sindical) até ser convidada para a pasta.
Vivia agora em Bruxelas, era A secretária geral adjunta da confederação europeia de sindicatos - portanto, a vice-patroa dos trabalhadores.
Como diria a Ferreira Leite, convidou-se a raposa para o galinheiro.
Conclusão, adivinham-se momentos gloriosos para a massa trabalhadora. Ou não?

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

SECTOR PARTICULAR


Quando não uso o meu carro para trabalhar, dá-se o caso de conduzir alguns carros da empresa.
De quando em vez tenho a graça de conduzir uma R4 que já havia quando cheguei há 15 anos.

Usada há 330.000 km por dezenas de pessoas*, está vai-para-3 anos desactualizada com um logótipo do anterior proprietário.

A borracha duma janela criou um ‘cadinho de musgo e o ponteiro do velocímetro está incompleto e enferrujado, assim como um fósforo consumido.

Sinal de improviso, um auto-rádio foi colado ao tablier, mas não funciona, e o espelho retrovisor interior já foi portátil (vulto solto) e usava-se com a mão disponível.

Por fim, a porta não é estanque a influências exteriores, no caso climatéricas. Admito, as R4 não têm portas estanques de série, já tive uma.

Podia dizer que a minha alva viatura é a cara do ESTADO. Mas não digo, não vá alguém chamar-me mal-agradecido de novo.

* Pergunta teórica: conhecem alguma empresa onde uma carrinha tenha andado 90 km (a somar a 10€ de ajudas de custo do funcionários) até à oficina contratada, para mudar o óleo? Inércia, é a minha explicação.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

CITANDO WOODY ALLEN

A realidade é uma merda, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife.

A vocação de um político de carreira é fazer de cada solução um problema.

O meu pai trabalhou na mesma empresa durante doze anos, foi demitido e substituído por uma maquininha deste tamanho, que faz tudo o que o meu pai fazia, só que muito melhor. O deprimente é que minha mãe também comprou uma igual.

As minhas notas na escola variaram de abaixo da média a abaixo de zero. Fui reprovado no exame de Metafísica: o professor acusou-me de estar a olhar para a alma do rapaz sentado ao meu lado.


Só existem 2 coisas importantes na vida: a primeira é o sexo, a segunda não me lembro.

Separei-me de minha mulher porque ela era terrívelmente infantil. Uma vez, eu estava a tomar banho na banheira, e ela afundou todos os meus barquinhos sem nenhum motivo aparente.

Eu e minha mulher ficamos na dúvida entre tirar férias ou nos divorciarmos. Optámos pela segunda hipótese: 2 semanas nas Caraíbas podem ser divertidas, mas um divórcio dura para sempre.

Faço análise há trinta anos e a única frase inteligente que já ouvi do meu analista é a de que preciso de tratamento.

Todas as minhas tentativas de suicídio foram um fiasco, passava a vida a abrir as janelas e fechar o gás.

O homem explora o homem e por vezes é o contrário.

O dinheiro é melhor do que a pobreza, ainda que apenas por razões financeiras.

Noventa por cento do sucesso baseia-se simplesmente em insistir.

Tradição é a ilusão da permanência.


E se tudo for uma ilusão e nada existir? Nesse caso, não há dúvida de que paguei demais por aquela carpete nova.

Deus é ateu, porque não acredita num ser superior.

Deus não existe e, se existe, não é muito confiável.

É agradável, de tempos em tempos, tentar imaginar o que teria sido a existência se Deus tivesse conseguido um orçamento e guionista melhores.


Eu detestava concluir que, sem Deus, a vida não teria sentido e, depois de dar um tiro nos miolos, ler no jornal no dia seguinte que Ele foi encontrado.

Para você eu sou um ateu; para Deus, sou a Oposição Leal.

Se realmente Deus existe, não creio que ele seja mau. Mas o mínimo que se pode dizer é que Ele obteve péssimos resultados.

Não é que eu tenha medo de morrer. É que eu não quero estar lá na hora que isso acontecer.

Interessa-me o futuro porque é o sítio onde vou viver o resto da vida.

Não quero atingir a imortalidade com meu trabalho, quero atingi-la não morrendo.

sábado, 9 de janeiro de 2010

O AVÔ* DE PACHECO PEREIRA MATOU INÊS DE CASTRO


D. Pedro casou aos 8 anos (1328) com Branca de Castela, mas repudiou-a um ano mais tarde, por debilidade física e mental.
Pedro casou de novo em 1339 com Constança Manuel, neta do Afonso X de Castela. Com a nubente veio uma aia galega chamada Inês de Castro, filha bastarda dum neto bastardo de Sancho IV (e que crescera junto de Pedro) e da amante portuguesa Aldonça de Valadares.
Para complicar, Inês tratava por mãe a mulher dum filho bastardo de D. Dinis e que o meio-irmão Afonso IV odiava.

Pedro apaixonou-se pela aia da mulher, e pelo seu colo de garça. O pai, Afonso IV, exilou Inês para a fronteira espanhola, e iniciou uma contenda com o filho, que durou anos.
Morta Constança no parto de Fernando, Pedro recusou casar de novo, alegando “sentir ainda muito a perda da mulher”, tentando encontrar consolo: Inês foi viver para sua casa – no norte e depois no Paço de Coimbra, destinado pela Rainha Santa aos reis, descendentes e esposas legítimas - e tiveram 4 filhos… Os passarinhos passeavam na agora quinta das lágrimas, onde José Miguel Júdice tem um (afianço-vos) fantástico hotel de charme.

Os irmãos de Inês tinham grande ascendente sobre Pedro e conseguiram convencê-lo dos direitos ao trono castelhano, o que foi sensatamente travado pelo pai.
O rei ouviu ainda dizer que os irmãos Castro queriam matar Fernando e tornar herdeiro um filho natural (chamavam-lhe assim, termo mais neutro que ilegítimo, pois quase todos os reis tinham uns) de Pedro. A 7 de Janeiro de 1355, o rei cedeu à corte e ao povo, e mandou Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco degolar Inês.

Já rei, Pedro I legitimou os filhos, afirmando que se casara em segredo com Inês “em dia que não se lembrava”. Dois carrascos de Inês foram trazidos de Castela, à troca de 4 fidalgos castelhanos espanhóis, e executados em Santarém (a lenda diz que Pedro comia enquanto via arrancarem-lhes o coração); Pacheco foi perdoado por D. Fernando, exilou-se em oposição do casamento do rei com Leonor Teles (lá teria a sua razão), ofereceu-se ao rei de Castela contra Portugal, regressando ao país após o tratado de paz.
É lenda que Pedro tenha exumado o corpo de Inês, coroando-a rainha e obrigando a corte a beijar-lhe a mão descarnada. Os túmulos de Pedro e Inês estão em Alcobaça, frente-a-frente, para que possam olhar-se quando despertarem no dia do juízo final.

A mesma história, 2 versões: um grande amor ou simples adultério, um pai severo ou sensato em assegurar o trono para o neto legítimo e um filho ingénuo e com más companhias, justiça ou vingança. Pedro ganhou vários cognomes, entre eles o cruel e o justiceiro. Qual deles o certo?

Adenda: Fernando foi o último rei da dinastia de Borgonha, sendo sucedido, não por um filho de Inês, mas pelo filho de Pedro com a amante Teresa Lourenço, João Mestre de Avis. Ora toma.
* Sim, o Pacheco Pereira é descendente do carrasco de Inês

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

RÉPLICA

O Mário Viegas faz parte da minha trindade de diseurs portugueses do século XX: o próprio, João Villaret e Ary dos Santos.
O Luís traz Viegas, eu trago Villaret e Ary, mas não o que queria: o menino de sua mãe de Fernando Pessoa dito por Villaret foi agora retirado do youtube e não consegui encontrar na net o grande "poeta castrado não" dito pelo seu autor Ary, fica o fado falado e uma declamação inflamada no prec.
A net tem quase tudo.





Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:


Da fome já não se fala
é tão vulgar que nos cansa
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
a morte é branda e letal
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Ary dos Santos

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

SEEEMPRE COCA-COLAAA...

Entre as marcas mais (re)conhecidas do mundo estão os gigantes da informática (Google, IBM, Apple e Microsoft), a Nokia e a China Mobile (por razões demográficas), a GE, a Nike e a Adidas, a McDonald, a Nestlè e a Coca-cola. De todas, só as 2 últimas são antigas.
A Coca-cola floresceu com 2 receitas.
A primeira é a do tónico para os nervos do farmacêutico Pemberton, de 1886 - primeiro com noz-de-cola e cocaína, desde 1915 com noz-de-cola e cafeína. Nos primeiros 8 meses, a venda na farmácia do Jacob da Pemberton’s french wine coca (o nome do refresco) resumia-se a 9 copos/dia.
A segunda receita é a publicidade agressiva, com publicidade no jornal desde o início, o desenho esquisito da garrafa, a promoção do pai natal desde 1932, fábricas-móveis na frente de batalha da 2ª GM, oferta de produto e entrega de prémios, a publicidade que fica na memória. Resultado, vendem-se 40000 coca-colas/segundo, nos EUA, e vendem-se em mais 140 países.
A publicidade é profusa e frequente, tornando-a campeã de vendas - mesmo que as pessoas prefiram a Pepsi nos testes cegos - e explora a imagem de frescura, de alegria de viver. Volta-não-volta, mandam-me anúncios da coca-cola, que nem chegam à TV, devem ser experiências. No último, conseguiram juntar a gasosa a “Pedro e o Lobo” de Prokofiev (3º vídeo). Quimaisirácontecê?







terça-feira, 5 de janeiro de 2010

VÊ-SE MESMO QUE ÉS VIRGEM


Em cada Janeiro, os quiosques são inundados com revistas de horóscopos.
Não vejo horóscopos desde a década de 80, quando em todas as casas havia uma TVguia (para saber o que dava nos dois canais) e desconheço se quarta é um bom dia para fazer negócios e se quinta será propícia para cefaleias.
Afinal, porque razão os Sagitários haverão de ter joanetes em Outubro, mês onde terão “possibilidades de novos negócios”? Tre-ta.

Não perco um minuto a ver os signos nessas revistas. Simplesmente, se formos 7 biliões, não é possível que um/doze avos, i.e., quase 600 milhões de pessoas sejam parecidos.
Imaginem 2 pessoas que nascem no mesmo minuto, filhos do Jardim Gonçalves e dum agricultor nepalês - por terem a mesma carta astral ou as mesmas influências de Neptuno sobre Urano (se isso for possível, que não percebo do assunto), os fulanos vão ter um feitio igual, ou vão ter um acidente aos 13 anos, ou vão encontrar a cara-metade no em Julho de 2017?

Tá bem, os carneiros (que conheço) são todos teimosos, mas são teimosos porque nasceram em Abril?
Ah e tal, existem os ascendentes, existe o livre arbrítrio... assim estão explicadas as falhas de previsão e a diversidade de cada um. Tenham pachorra.
E já repararam que as listas de atributos dos signos são maioritariamente positivos? E há muitos atributos, alguns acertam mesmo.
Só me escapa como é que os Sagitários conseguem ser “hipócritas” e bonitos por dentro”, ao mesmo tempo.

Pá, lá por ter nascido em Setembro, não tenho que ser “conservador e pessimista, argumentativo, com horror ao caos, prático, terra-a-terra, pragmático e exigente”. Por acaso é verdade. Repito, por acaso.

E depois há outros zodíacos, onde já não interessa o mês, mas o ano. Há quem faça combinações e aproveite para chamar um gajo de porco virgem.

E eu não quero entrar na leitura das linhas das mãos ou em tarot, onde o futuro depende do sítio onde partimos o baralho. Isso dava pano para mangas.

domingo, 3 de janeiro de 2010

O TIRO PELA CULATRA


D. MANUEL foi o rei dos impossíveis. Não estava calhado para reinar, não fosse Afonso, o único filho do príncipe perfeito D. João II, ter caído do cavalo em Almeirim e morrido (é das únicas cenas que me lembro de “Non ou a vanglória de mandar” de Oliveira, a par duma conversa entre militares, num camião no Ultramar, com o Manuel Guilherme).
Morto D. João II, o primo-direito/cunhado Manuel chega ao trono no apogeu da ciência náutica portuguesa, com a chegada à Índia e ao Brasil.

Mas ele quis mais, quis Espanha*. Viu a oportunidade quando morreu o único varão dos Reis Católicos.
Vai daí, casou com Isabel, viúva do tal Afonso e filha mais velha da (prima-direita) Isabel a Católica: a mulher morreu de parto, mas o filho Miguel da Paz foi jurado herdeiro de Castela, Leão, Aragão e Portugal. Azar, morreu aos 2 anos.
Esteve quase.
Manuel insistiu e casou com a cunhada/prima Maria, que lhe deu novo herdeiro (João III), mas só de Portugal.
Morta Maria, Manuel casou com Leonor, sobrinha da falecida e filha de Joana a Louca, então herdeira de Espanha: como a noiva já estava prometida a seu filho (também o inglês Henrique VII quis casar com a nora viúva e Filipe II de Espanha roubou a noiva ao filho), o infante teve que casar com a irmã da nova madrasta, Catarina da Áustria.

Manuel teve 11 filhos, suficiente para manter a coroa independente. O filho João III deu-lhe 8 netos, 5 morreram crianças, 1 não sei o destino, sobrou Maria e João, que morreu novo sem reinar e deixou um filho. Esse bisneto de Manuel chamava-se Sebastião e morreu (?) em Alcácer-Quibir… só com uma tia paterna, casada com um Habsburgo.
A mistura com Espanha foi tão forçada que apareceu o pretendente Filipe II, neto, sobrinho e sobrinho-neto de Manuel, genro e sobrinho (pela mãe e pelo pai) de João III, tio materno e por afinidade de Sebastião. Entregou-se o ouro ao bandido.

Mas e se Miguel da Paz crescesse e viesse a reinar? Havia uma cláusula que garantia que os cargos nacionais permaneciam em mãos de portugueses, mas não acabaríamos todos espanhóis?

* Houve anos antes uma tentativa menos diplomática de anexar Castela. O pai de João II, Afonso V, casara com a sobrinha Joana a Beltraneja, herdeira de Castela, e lutara pelo seu trono. Mas Isabel a Católica fez-se coroar em Segóvia, alegando que o falecido meio-irmão (Henrique IV) era impotente e que a sobrinha Joana era filha da cunhada adúltera Joana de Portugal e do cortesão D. Beltrão.

sábado, 2 de janeiro de 2010

2009

A Imagem do Ano:
Bernard Madoff condenado a 150 anos de Prisão. A sua imagem representa a fraude e a exploração levada a cabo pelo até aqui "imbatível" capitalismo americano que supostamente nos levaria à felicidade final.
A Frase do ano:
Maria José Nogueira Pinto - "Dar aos idosos 80 euros é um ultraje e um insulto porque eles, diabéticos, vão beber cerveja e comer doces e serão roubados pelos filhos" Sem palavras...
O Acontecimento Nacional do Ano:
Aprovação em Conselho de Ministros do alargamento do Direito de todos os Cidadãos à figura jurídica do Casamento. Apesar de ainda não ser a plenitude de Direitos para todos, é um passo para uma sociedade mais livre e igual perante a lei.
Personalidade Nacional do Ano:
Ricardo Araújo Pereira
Pelas crónicas na Visão e pelo Programa "Esmiúçam os Sufrágios", demonstra definitivamente que é o grande comediante português sem deixar de lutar pela Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Acontecimento Internacional do Ano:
Pirataria na Costa da Somália. Terrível mas não deixo de sorrir ao ver que que as figuras românticas da minha infância sobrevivam e se adaptam à voragem tecnológica do novo século/milénio.
Personalidade Internacional do Ano (Ex aequo):
Neda Soltan - Jovem iraniana assassinada pela Ditadura Iraniana quando participava em manifestações a solicitar Democracia e Verdade Eleitoral.
Aminatu Haidar - activista em prol da República Árabe Saaráui Democrática e dos direitos humanos que conseguiu através de uma heroica greve de fome, regressar ao seu país.

Pedro Mendonça

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

ANO NOVO, VIDA NOVA


"A cidade está calma. Está sempre, no dia de ano novo. Não Apenas devido à ressaca colectiva que se segue aos festejos da noite anterior, mas também devido à consciencialização colectiva, à luz crua do dia, de que o mundo é exactamente o mesmo que era doze horas antes. O ano novo é festejado com o optimismo cego de que os doze meses que se seguem serão melhores do que os que acabaram de passar, mas no fundo sabe-se que o momento arbitrário que marca o início de um novo ano não é o começo de nada. É apenas um ponto no tempo como outro qualquer. A fracção se segundo em que se diz “sim”, ou na qual o nosso primeiro filho vem ao mundo, ou em que um ser amado exala o último suspiro: são esses os momentos que mudam as nossas vidas, não as badaladas d(um)a meia-noite."
Boris Starling em Messias

Há pessoas com o dom de passar ao papel exactamente o que todos sabemos.

Bem, além de pormos o contador a zero e criarmos expectativas inócuas, a passagem de ano é sempre ocasião para uma opípara jantarada e um feriado a seguir. Nada mau.