sexta-feira, 26 de setembro de 2014

CAUTELA E CALDOS DE GALINHA

A Prudência, Palácio de S. Bento
Raul Maria Xavier 1941



PRIMEIRO, GUTERRES E DURÃO
TIVERAM FALTA DE COMPARÊNCIA,
SANTANA TEVE FALTA DE VOCAÇÃO,
PASSOS JUNTOU-SE A SÓCRATES,
NA FALTA DE REPUTAÇÃO.
NA PRÓXIMA ELEIÇÃO,
VIRÁ NOVA EXCELÊNCIA -
AUDITE-SE JÁ ANTÓNIO COSTA,
POR PRUDÊNCIA,
ATÉ À QUARTA GERAÇÃO,
MAIS FILHOS, NETOS E O CÃO.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

MALCOVICH, MALCOVICH, MALCOVICH

Malcovich, Malcovich, Malcovich - Homage to Photographic Masters é o título duma exposição de Sandro Miller com 33 recriações de fotografias icónicas, na Catherine Edelman Gallery, em Chicago. Denominador comum, John Malcovich interpreta todos os papéis.
 
Albert Watson - Alfred Hitchcock (with Goose), 1973 / Sandro Miller, 2014
 
Alberto Korda - Che Guevara, 1960 / Sandro Miller 2014


Andy Warhol - Self-Portrait (Fright Wig), 1986 / Sandro Miller, 2014

Andy Warhol - Green Marylin, 1962 / Sandro Miller, 2014
 
Annie Leibovitz - John Lennon e Yoko Ono, NY 1980 / Sandro Miller, 2014

Arthur Sasse - Albert Eisntein Sticking Out His Tongue, 1951 / Sandro Miller, 2014


David Bailey - Mick Jagger Fur Hood, 1964 / Sandro Miller, 2014


Diane Arbus - Identical Twins, Roselle-New Jersey 1967 / Sandro Miller, 2014

Dorothea Lange - Migrant Mother, Nipomo-California, 1936 / Sandro Miller, 2014

Herb Ritts - Jack Nicholson (Joker), Londres 1988 / Sandro Miller, 2014

Irving Penn - Pablo Picasso, Cannes 1957 / Sandro Miller, 2014

Irving Penn - Truman Capote, New-York 1948 / Sandro Miller, 2014


 
Robert Mapplethorpe - Self Portrait, 1983 / Sandro Miller, 2014


Philippe Halsman - Salvador Dali, 1954 / Sandro Miller, 2014


 
Pierre et Gilles - Jean-Paul Gaultier, 1990 / Sandro Miller, 2014

 
Victor Skrebneski - Bette Davis, LA 8.11.1971 / Sandro Miller, 2014

Yousuf Karsh - Ernest Hemingway, 1957 / Sandro Miller, 2014
 
 º º º º º


Imagem dum cartaz do filme Being John Malcovich, 1999

terça-feira, 23 de setembro de 2014

PROBIDADE


Primeiro, foi o verbo: a PGR recebe uma denúncia detalhada, contando que, entre 1997 e 1999, o deputado Passos Coelho (PC) recebeu um subsídio de exclusividade na assembleia da república, enquanto recebia €5000 mensais (depositados no Banco Totta & Açores) pagos pela Tecnoforma - PC era presidente do Centro Português para a Cooperação, uma ONG da empresa -, não declarados ao fisco. O fundador da Tecnoforma, Fernando Madeira, dissera que PC recebia pela sua colaboração, pois ‘o senhor não foi para ali pelos meus lindos olhos’.
Ontem, a secretaria-geral da AR garantiu que PC não tivera qualquer regime de exclusividade enquanto deputado (que justificaria mais 10% no salário) e reiterou hoje que não existe na AR uma declaração de exclusividade relativa ao período entre 1995 e 1999. Ufff.
Já Público informa que PC pediu (e obteve) um subsídio de reintegração de €60.000 quando saiu da AR em 1999, tendo em conta a sua exclusividade: lê-se no parecer da AR que PC 'veio posteriormente a informar desempenhou funções de deputado durante as VI e VII legislaturas em regime de exclusividade'. Durante a instrução do processo, PC apresentou cópias das declarações de IRS, onde constam, nos anos de 96, 97 e 99, além do salário como deputado, ‘apenas’ actividade independente por colaborações na imprensa e rádio – não considerados para efeitos de exclusividade. Ou seja, o seu rendimento da Tecnoforma não aparece nas declarações fiscais.
Honra lhe seja feita, PC não nega que tenha fugido ao fisco, o problema é a memória: ‘Não tenho presente todas as responsabilidades que desempenhei há 15 anos, 17 e 18. É-me difícil estar a detalhar circunstâncias que não me estão, nesta altura, claras, nem mesmo nas supostas denuncias que terão sido feitas’. Compreende-se, é um curriculum tão extenso, que se esquecem salários bojudos e se foram declarados.
Pormenor, PC não diz que cumpriu, diz ‘tenho consciência e convicção de ter cumprido sempre todas as minhas obrigações legais’. Acha, portanto.
A achar mal, tem graça que a sua prática de nos ir ao bolso já venha de longe. Ironia maior era o seu comparsa no aumento colossal de impostos, Vitor Gaspar, agora não pague impostos. Era não, é, os salários no FMI são tax free.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O PASSADO É A TUA MOCHILA


TEM APENAS O QUE PUDERES CARREGAR CONTIGO.
CONHECE LÍNGUAS, PAÍSES, PESSOAS.
DEIXA QUE A TUA MEMÓRIA SEJA A TUA MOCHILA.

Alexander Soljenítsin

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

UMA QUESTÃO DE PERSPECTIVA


A VIDA É COMO A VOZ:
OUVIMOS A NOSSA
COM A GARGANTA
E A DOS OUTROS
COM OS OUVIDOS.

ad. ANDRÉ MALRAUX
LA CONDITION HUMAINE

Há Metafísica Bastante Em Não Pensar Em Nada

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso. 
   
Que ideia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

«Constituição íntima das cousas»...
«Sentido íntimo do Universo»...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.

Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos, 08.03.1914

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

REALMENTE


Nove soberanos europeus em Windsor, no funeral de Eduardo VII, 1910
 
Em pé, da esquerda para a direita: Haakon VII (Rei da Noruega), Ferdinand I (Czar da Bulgária), Manuel II (Rei de Portugal e dos Algarves), William II (Kaiser da Alemanha, Rei da Prússia), Geórgios I (Rei da Grécia) e Albert I (Rei da Bélgica)
Sentados, da esquerda para a direita: Alfonso XIII (Rei de Espanha), George V (Rei do Reino Unido e dos domínios britânicos, Imperador da Índia), Frederik VIII (Rei da Dinamarca)

Christian Frederik Karl Georg Valdemar Axel (Charlottenlund 1872-Oslo 1957),  Casa de Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glücksburg

Ferdinand Maximilian Karl Leopold Maria of Saxe-Coburg and Ghota (Viena 1861-Coburg 1948), Casa de Saxe-Coburg-Ghota *

Manoel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio de Bragança Orleães Sabóia e Saxe-Coburgo-Gotha (Lisboa 1889-Londres 1932) **

Friedrich Wilhelm Viktor Albrecht von Preußen (Berlin 1859-Doorn Holanda 1941), Casa de Hohenzollern (primo direito de Eduardo VII)*

Christian Wilhelm Ferdinand Adolf Georg of Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glücksburg (Copenhaga 1845-Salónica 1913), Casa de Oldenbug ***

Albert Léopold Clément Marie Meinrad (Bruxelas 1875-Marche-les-Dames BE 1934), Casa de Saxe-Coburg-Ghota (casa materna Hohenzollern-Sigmaringen)

Alfonso León Fernando María Jaime Isidro Pascual Antonio de Borbon y Habsburgo-Lorena (Madrid 1886-Roma 1941) **

George Frederick Ernest Albert (Londres 1865-Norfolk 1936), Casa de Saxe-Coburg-Ghota

Christian Frederik Vilhelm Carl (Copenhaga 1843-Hamburgo 1912), Casa de Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glücksburg (tio-avô de Jorge V)
 
* abdicou ** deposto *** assassinado

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

EU SOU UMA DE MUITAS HIPÓTESES

Francisca Ferreira da Costa, 1.9.1919
 
EU SOU EU E A MINHA CIRCUNSTÂNCIA,
E SE NÃO A SALVO A ELA, NÃO ME SALVO EU.
José Ortega y Gasset, Meditações do Quixote
 
 
Armando Vara disse que a sua sentença tinha mais a ver com a sua circunstância que com os factos, provando a sua iniciação à filosofia, na pessoa de Ortega y Gasset. 
A primeira oração da frase de OyG é a mais sumarenta, e bem podia ser traduzida por 'eu sou uma de muitas hipóteses', porventura antagónicas.

* Antes do filósofo, já um escritor de aventuras dissera algo semelhante, numa entrevista de Rudyard Kipling publicada no From to Sea, em 1889: para Mark Twain, 'quando uma pessoa se detém a pensar, a religião, a formação e a educação não são garantia de nada perante a força das circunstâncias que movem o homem'.
 

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

EM PRIMEIRA MÃO


Este livro é uma óptima escolha, mesmo para quem não seja fã da época: excelente enredo para qualquer novela, tem drama e horror, traição e amor, assassinatos e suicídios, parricídios, matricídios e infanticídios, ascensão e queda, bons e maus. Tudo acompanhado por sonhos, presságios,  acontecimentos premonitórios certeiros e milagres (Vespasiano curou em cego e um coxo, palavra!).
Para os outros, não há livro sobre a Roma antiga que não refira ou cite 'As Vidas dos Doze Césares' de Suetónio. Assim sendo, nada melhor para um simpatizante dessa época, do que 'ir à fonte'. 
Claro está que não se pode acreditar em tudo*, a história oral é equívoca, Suetónio não assistiu às estórias (nasceu no final, ou mesmo depois, do principado de Nero) e os cronistas oficiosos, como Fernão Lopes, tendem a contar a história a gosto do seu  amo e a tomar partidos (ex., o autor afirma que César abusou do poder e 'mereceu ser assassinado').
Porém, se alguém tinha acesso aos documentos existentes, era ele, que foi superintendente das bibliotecas públicas de Roma, responsável pelos arquivos e chefe da chancelaria imperial, tendo sob a sua alçada toda a correspondência oficial.

Ali aparecem, em primeira mão, frases de César tantas vezes repetidas, como 'Andemos para onde nos chama os desígnios dos deuses e a iniquidade dos nossos inimigos. A sorte está lançada.', quando passou o Rubicão, 'Vim, Vi, Venci', sobre a conquista do Ponto, no nordeste da Turquia, ou 'Porque considero que os meus devem estar isentos não só do crime, mas também da suspeita', justificando o divórcio de Pompeia, com razão acusada de adultério (frase depois alterada para 'a mulher de César não basta ser honesta, tem que parecê-lo').
Lá também parecem 2 conhecidas frases de Augusto ('Apressa-te lentamente - mais vale um chefe prudente que temerário' e 'Deixei uma cidade de mármore onde encontrei uma de tijolos') e um curioso ditado sobre a celeridade das coisas, 'mais depressa do que se cozem espargos', bem como o verso duma tragédia, 'Que me odeiem, desde que me temam', usada por Tibério (trocando temam por respeitem) e Calígula, depois glosada por Maquiavel e Napoleão  - no caso de Tibério, o seu caracter cruel era já conhecido em criança, pelo menos pelo seu mestre de retórica, que o descreveu como 'lama diluída em sangue'.
Permita-se-me mais um exemplo: 'o dinheiro não tem cheiro' foi a explicação prática que Vespasiano deu ao filho, quando este se indignou pela imposição duma taxa sobre as latrinas públicas.
 
Um iniciado não fica surpreso com a endogamia dos césares - a elite casava-se várias vezes e entre si, como Octávio e Pompeu, que desposaram as filhas um do outro -, que pode explicar as suas taras:  Tibério organizava bacanais com crianças, Calígula tratava uma irmã como esposa legítima e prostituiu as outras 3, Tibério e Nero tinham relações mal resolvidas com a mãe - no caso de Nero, antes de mandar matar a mãe (após 5 'acidentes' gorados), parece que tinha relações incestuosas com ela.
Nesse campeonato, Calígula leva a taça: mandou recolher as melhores estátuas gregas de deuses e substituir as suas cabeças pela dele, e quis tornar cônsul o seu cavalo Incitato, a quem ofereceu um estábulo de mármore e marfim, mais um palácio mobilado e com escravos. Mas Nero perde no photofinish: não era esquisito, abusava de 'rapazes de nascimento livre' (supõe-se que Suetónio não veria mal se fossem escravos) e casou-se formalmente com um rapaz que castrara; fazia turnés em concursos de música e teatro, com um nervosismo desproporcionado - a plateia não só ficava até ao fim (o recinto era encerrado durante a sua actuação), como obviamente ganhava a competição. Aliás, a vitória, sempre: mesmo desistindo a meio, como fez numa corrida de carros num jogos olímpicos, foi coroado.   

Um iniciado também já sabe como era perigosa a vida dum imperador: Júlio César foi assassinado, o fim de Tibério talvez tenha sido apressado pelo sobrinho Calígula, que foi assassinado como o seu sucessor Cláudio, envenenado pela 5ª mulher Agripina (a 3ª mulher, Messalina, teria já conspirado contra ele), mãe de Nero, que pediu ajuda ao secretário para matá-lo, depois das suas patéticas tentativas de suicídio; o seu sucessor Galba foi assassinado, seguiu-se o suicida Otão e depois Vitélio, também assassinado, como o 3º dos flávios. Dos 12, só Augusto, Vespasiano e Tito (o único incensado pelo historiador) não tiveram um fim 'apressado'.  
Para sobreviver, vários Césares eliminaram os adversários potenciais (Tibério e Germânico, Calígula e Gemelo, Nero e Britânico, Otão e Pisão). De facto, Calígula e Cláudio só lá chegaram porque sobreviveram às purgas 'fazendo-se de mortos' (o caracter titubeante de Cláudio, que era pau-mandado das mulheres e dos seus libertos, é bem expresso numa sua sentença judicial, 'Opino como aqueles que têm razão'). Também Galba tentou não dar nas vistas como governador da Hispânia, para não suscitar a inveja de Nero, repetindo que ninguém podia ser chamado a prestar contas por não ter feito nada.  
Nesse aspecto, e pagando com a vida, Júlio César foi diferente: era magnânimo com os adversários derrotados e, ao contrário de Pompeu, declarou seus amigos quem se abstivesse na guerra civil.  
 
Suetónio enumera vários casos para retratar os imperadores como humildes, ponderados, clementes ou cruéis. Tendo um poder quase divino, o mesmo César dava a vida ou a morte conforme o humor do momento, como um vulgar capricho - Calígula bem respondeu à avó que o recriminara, 'Lembra-te de que posso tudo e tenho poder sobre todos'.
As sentenças podiam ser tão irreflectidas que Cláudio mandava convidar para jogar dados pessoas que não apareciam... porque as mandara matar na véspera. Os mais próximos estavam mais expostos ao risco de vida, incluindo a parentela e os senadores, alvo de grandes purgas, através de exílio, execução ou intimação ao suicídio. Os motivos eram tão graves como ter 'um semblante severo' ou criticar a equipa de carros de que o imperador era adepto... porque tinham-no feito para atacá-lo pessoalmente.
Comum a quase todos, começavam por deplorar os exageros do antecessor, 'perdendo-se' durante o reinado, incluindo numa crescente voracidade fiscal: exemplo, Tibério recusou inicialmente a aumentar os impostos, porque 'um bom pastor tosquia as suas ovelhas, não as esfola', mas acabou por cessar isenções fiscais, provocar testamentos a seu favor e confiscar fortunas sob os pretextos mais absurdos.
Ali são descritos manias (um édito de Tibério proibia as pessoas de se aproximarem dele) e alguns hábitos cruéis, como a dizimação de coortes menos bravas (i.e., a execução de 1 em cada 10 soldados) ou o castigo de parricidas, atirados ao rio dentro de um saco de couro com um cão, um galo, uma cobra e um macaco.  
 
Surpresa, surpresa, César tinha os membros bem torneados e o rosto um pouco cheio, ao contrário da imagem esguia desenhada por Albert Uderzo, era apodado de bissexual promíscuo (Curio, num discurso, trata-o como 'o marido de todas as mulheres e a mulher de todos os maridos') e, num aperto 'lançou-se ao mar e nadou duzentos pés, até ao navio mais próximo, mantendo a mão esquerda levantada para não molhar os escritos que levava' - o famoso naufrágio de Camões foi uma curiosa coincidência (a história repete-se), ou falta de imaginação?

* a versão sensacionalista de Suetónio, de que Nero mandou incendiar Roma, porque os edifícios eram feios e as ruas estreitas, é contrariada pelo historiador Tácito (mais reticente em veicular os diz-que-disse mais picantes, e mais brando com Messalina, por exemplo), que terá razão - o imperador nem estava na cidade, e foi expedito no plano de combate às chamas.  

A Morte de César, 1959-67, Jean-Léon Gérôme

Proclamando Cláudio Imperador, 1867, Sir Lawrence Alma-Tadema
(Cláudio escondeu-se atrás dum reposteiro, para fugir aos guardas que mataram
o sobrinho Calígula; descoberto, não foi eliminado, mas feito imperador)

Escultores na Roma Antiga, 1877, Sir Lawrence Alma-Tadema