quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

TU QUERES É CUMBÍBIO

O Grupo do Leão, Columbano Bordalo Pinheiro 1885, 200x380 cm, Museu do Chiado
Sentados, esq-dta: Henrique Pinto, José Malhoa, João Vaz, Silva Porto, António Ramalho, Moura Girão, Rafael Bordalo Pinheiro e Rodrigues Vieira. De pé: Ribeiro Cristino, Alberto d'Oliveira, Manuel Fidalgo (empregado de mesa), Columbano Bordalo Pinheiro, Dias (criado) ou António Monteiro (dono da cervejaria Leão de Ouro) e Cipriano Martins    
  
A vozearia é atordoadora. A confusão pode dar uma ideia de Babel.
Tratam-se simultaneamente todos os assuntos; as transições fazem-se com uma rapidez, que surpreende e embaraça os próprios interlocutores; atenção que se desvie um segundo, é perdida; não encontra depois já o diálogo onde o deixou; às vezes a conversa generaliza-se; momentos depois, distribui-se em especialidades por diversos grupos; mais tarde generaliza-se de novo; em certas ocasiões, todas as bocas falam, cada um se escuta a si; noutras algum orador consegue por instantes fazer-se escutar de todos, até que um aparte, um incidente, um gesto, restabelece a independência primitiva. Dão-se também verdadeiros encruzamentos de conversas; o dos pés da mesa responde ao dito que ouve ao da cabeceira, enquanto os que intermédios se entretêm de outros objectos; é um baralhar de palavras, em que a custo se tira a limpo a expressão do pensamento.
Uma Família Inglesa, Júlio Dinis 1868

É isto uma boa refeição, uma jantarada de amigos, a vozearia caótica, os nano-brindes (como escreve Dinis, não se admitem longos speechs, porque é sempre mais expressivo o gole que entra, do que a frase que sai, até porque, devendo dar-se a primazia ao mais sábio, é o vinho que a merece), o tilintar de copos, as conversas entremeadas, as lembranças passadas, as combinações futuras com a duração da alcoolémia, as farpas à desgarrada.
A comida, pelo menos para mim (que só quero é cumbíbio, nas palavras dum comparsa), é pormenor.  

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