terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

ANDREAS GURSKY - ONDE ESTÁ O WALLY?

Pode uma fotografia, passajada a Photoshop, ser vendida por cerca de 3,5 milhões de euros? Pode, pois.
Para chegar lá, é preciso 'complicar': no site do MoMA, dono de algumas das suas obras, o trabalho de Gursky é descrito como uma tensão entre a clareza e natureza formal das suas fotografias e uma intenção e sentido ambíguos nelas representados, chegando a comparar as suas imagens das bolsas de valores com pinturas abstractas expressionistas; a distância do 'momento decisivo' de Cartier-Bresson e a concomitante rejeição da verdade da imagem cândida, diz-se, é sublinhada pela manipulação digital das fotografias.
Já o crítico Calvin Tomkins encontrou nas suas imagens XXL 'a aura majestática das paisagens pintadas no século XIX, sem perder o seu imediatismo meticulosamente detalhado de fotografia'. Mai' nada.
Como é habitual, eu não encontro a mesma poesia que os entendidos, mas as composições do alemão, nascido em 1955, provocam um impacto irrevogável. E, em fotografias como as da Coreia do norte, a praia ou a Prada (uma pauta...), consegue-se vislumbrar alguma musicalidade na cenografia, seja nua de pessoas, ou empolada de gente anónima (a lembrar os álbuns do Wally), num caos harmónico.
Os trunfos de Gursky, que o tornaram no fotógrafo mais bem pago do mundo (uma das seis fotografias do Reno bateu todos os recordes, sendo vendida por €3,5 milhões), são uma lente grande angular (com panorâmicas tiradas, amiúde, duma perspectiva mais elevada), máquinas de alta resolução, uma titânica pós-produção, pixel a pixel, à procura do sublime (é reconhecida a adulteração do Bundestag, e suspeitos a largura do prédio de Montparnasse e o alinhamento cromático dos guarda-sóis de Rimini) e impressões de grande formato, oferecendo uma 'impressionante compilação de detalhes numa escala épica' - detalhes (e repetições) dum mundo globalizado, mas apresentados duma forma algo desligada, sem que transpirem as emoções dos 'figurantes'. Na verdade, as imagens são impessoais e a multidão é o ser orgânico: é facto que, visto de longe, temos as emoções duma ameba. 
Enfim, Cartier Bresson está para Gursky como o Dolce Vita para o Matrix. Mas eu gosto de blockbusters.
Pormenor, a colecção BESart inclui Gursky no seu catálogo.

1982. Desk Attendants

1993. Paris Montparnasse

1994. Hong Kong Stock Exchange (díptico)
1995. Dance Valley (Amesterdão)
1996. Prada,I (139.7 x 221.7 cm)
Leiloado em 2006 por £164,800

1996. Untitled III (255.6 x 200.7 cm), MoMA

1997. Prada II (111.8 x 275.3 cm)
Leiloado em 2012 por $782,500 d.
1997. Singapore Stock Exchange (132.1 × 235.6 cm), Guggenheim NY

1998. Bundestag (284×207 cm), Tate Gallery

1999. Klitschko

1999. Rhein II (155.6 x 308.6 cm), MoMA
Leiloado outra fotografia da edição de 6 imagens, na Christie's NY, por $4,338,500 d. a 8.11.2011

1999. Chicago Board of Trade II

1999 Toys 'r' Us (207 x 336.9 cm), MoMA

2000. Kuwait Stock Exchange

2000. Shanghai
 
2001. Madonna I

2001. Loveparade (100 x 242 cm)


2001. 99 cent store II (díptico)
 Leiloado por £2.100.000 in 2007

2002. Untitled XIII (México)

2003. Rimini (297 × 207 cm)
Leiloado a 10.10.2012 por £421,250


2004. Nha Trang (295,5 x 207 cm)
2004. Dior Homme (prova por revelação cromogénea, 187 x 371,3 cm) BESart
2005. Bahrain I (301.9 x 219.7 cm), MoMA

2006. May Day V

2007. James Bond Island II


2007. Pyongyang I (Arirang festival)
50000 figurantes e, nas bancadas, 30000 estudantes com cartões coloridos
Há quem encontre aqui ironia nas caras felizes a festejar um Estado policial e hermético


2007. Pyongyang II (díptico)

2007. Pyongyang IV

2007. Kathedrale I (Chartres)
Uma das pessoas será o realizador Wim Wenders

2007. Kamiokande (observatório subterrâneo de neutrinos, Japão)

2007. Kamiokande

2008. Ohne Titel XV (Untitled XV)


2009. Dortmund (307 x 222.7 cm)

2009. Bibliothek (158.9 × 322.6 cm), Guggenheim NY 

2011. Bangkok IX



Stadium

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