terça-feira, 14 de janeiro de 2014

PRETÉRITO IMPERFEITO


Os partidos são uma maçada e ser militante dum partido é uma grande maçada. Os quadros dos partidos, normalmente são muito, muito medíocres, são pessoas muito medíocres, não têm mais nada que fazer na vida, ou que acham que aquela é a forma principal de subir na vida. Os partidos dispensam o mérito.
É uma coisa que eu decidi na minha cabeça, se há coisas definitivas na minha cabeça, uma delas é essa [não entrar na política].
Alguém disse isso, e eu subscrevo integralmente: nunca me passou pela cabeça (mais que 3 segundos) filiar-me num partido.   
 
Isso não impede o hábito de votar no mesmo partido, um pequenino - em quase tudo, costumo torcer pelo underdog -, com poucas hipóteses de chegar ao poder. Trocando a palavra amigo por partido, estou como esse alguém, o poder é a  pior coisa que há, eu sou geneticamente contra o poder, seja ele de quem for. No dia que algum amigo meu lá chegar, eu passo-me para a oposição e deixo de ser amigo dele.
Sim, o problema é quando esse partido lá chega: o governo de 2002-2005 já não era de boa memória, mas esta 'presença' está a ser um desvario - admito, este governo, que acha que cortar é diferente de reformar, mas tem uma tesoura endiabrada, está particularmente a apertar-me os calos (como João Pereira Coutinho, se há coisa que me dói profundamente, são sapatos apertados) em duas rubricas algo sensíveis do meu orçamento, a receita e a despesa. Em doses sucessivas.
Já se sabe que governo nenhum cumpre tudo o que prometeu, mas há limites: como bem disse alguém, não se pode sacrificar a identidade ao acesso ao poder. Pois onde está o partido dos contribuintes, o provedor dos idosos e das famílias (todas as medidas teriam um visto familiar, asseguraram)? Não foi nisto que votei e não vislumbro as 'bandeiras' do CDS - para o distraídos, era no CDS que eu votava (literalmente, no pretérito imperfeito) -, vejo apenas umas bandeirolas de arraial, agitadas freneticamente, depois duma crise em que o CDS não ganhou peso no governo, foi Coelho que deu um abraço de urso a Portas.
Há uma terceira coisa tão certa como a morte e os impostos: as sessões parlamentares seriam memoráveis se o CDS estivesse na oposição, com o tribuno Paulo Portas a esfrangalhar o governo.

É, Portas está a exagerar nas artes circenses: primeiro, era o acrobata com as suas metamorfoses de eurocéptico para europrudente, e de liberal para popular e mais tarde para democrata-cristão; depois, é o trapezista no bamboleante arame, com as suas linhas vermelhas; agora é o mimo, com a mudez esfíngica.
A prometida justificação sobre a sua demissão do governo, reservada para o congresso ('a sua gente'), resumiu-se à negação dum capricho ou enfado, que 'o que teve de ser teve muita força, a crise foi superada e, a meu ver, o governo está mais forte' e que 'O partido deve apenas saber que actuei em último e exclusivamente em último recurso, por entender que se nada fosse feito a coligação poderia deteriorar-se e isso poria em risco aquilo que é um bem essencial para todos: termos governo que chegue para vencer o resgate'.
Embora a acrítica assembleia tenha ficado satisfeita, parece-me que não chega. Portas terá tido alguma razão: por Passos decidir reiteradamente contra a sua opinião, Portas quis sair e Cavaco demoveu-o, quis sair 2ª vez e o partido não deixou e, quando pediu ao PM para esperar o seu regresso ao país para substituir Gaspar, e Passos enviou-lhe um sms informando estar a caminho de Belém para dar o nome da nova ministra das Finanças, Portas resolveu não avisar ninguém. Mas, para um decano da política, não ter arranjado uma escapatória na sua carta, para poder voltar atrás, foi uma inépcia imperdoável. Como disse alguém sobre Lucas Pires, o brilho não faz uma carreira política, mas o disparate pode desfazê-la irremediavelmente.

Tal como as famílias (com o seu primo ignorante, a tia desbocada, o neto malandro ou a cunhada que só diz asneiras, mas que a parentela desculpa porque tem síndrome de Tourette), todos os partidos têm alguns militantes com os quais não queremos aparecer na fotografia.
A Gente do CDS inclui a direita dos costumes, que pretende ter parecer vinculativo sobre as escolhas privadas alheias, e a direita social, com 2 espécimes bem representados na agremiação, as saudosas septuagenárias com estolas de pele, cachuchos nos dedos e cabelo armado à Tatcher, e os copinhos de leite (como lhes chamou  Avelino Ferreira Torres, outra companhia recomendável) de blaser e gel no cabelo.
O excesso de etiqueta das avós é compensado em falta de Educação  dos netos (nas palavras de Pedro Marques Lopes, 'parece mesmo que há gente a quem falta um pedaço, o mais importante pedaço'), porque é disso que se trata, como se viu neste 25º congresso: a ideia esdrúxula de diminuir a escolaridade de 12 para 9 anos - subscrita pelo líder da JP e apoiada por 5 secretários de Estado, porque 'a liberdade de aprender (…) é um direito fundamental de cada pessoa' - é absolutamente simiesca, numa perspectiva darwinista. Não estamos a falar de conservadores que pragmaticamente duvidam de mudanças mal fundamentadas, mas de reacionários que querem voltar para trás. E eu não me apetece nada estar associado a trogloditas, nem pela coincidência de uma cruzinha.
Eis algumas razões porque, sem entusiasmo, passo a votante em branco de longa duração: como disse alguém, é irrevogável, obedeço à minha consciência e mais não posso fazer.

post-scriptum: o outro é, obviamente, Paulo Portas

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