quinta-feira, 11 de julho de 2013

DISCURSO DE OGRE


Os discursos de Cavaco são como os ogres e as cebolas: têm camadas.
O governo está 'em plenitude de funções', mas a solução proposta de reorgânica não é aceite, e o seu prazo é amputado. Eleições não, mas os partidos que assinaram o memorando devem juntar-se num compromisso de salvação nacional: isso é um governo, ou 'apenas' um pacto em que os 3 partidos, nesta e na próxima legislatura, se comprometem a médio prazo com um checklist programática, dando um aval a quem estiver em S. Bento? Cavaco quer, ou não, promover um governo de iniciativa presidencial, com um árbrito (uma espécie de Monti) à sua escolha? Se eles não se entenderem, ameaça com 'outras soluções politico-partidárias', como um governo seu (o que, dizem, a constituição já não é possível desde 1982), mas não o sufrágio que agora recusa?
Já se sabia que, qualquer que fosse a sua decisão, não podia agradar a todos, mas Cavaco fez a quadratura do círculo: não aceitou a remodelação do governo (pode?), para angústia deste; não convocou eleições, chateando a esquerda; demitiu o governo a prazo, humilhando a direita; algemou o PS a um entendimento, que é como lepra para os socialistas; deixou de fora o PC e o BE, desconsiderando a extrema-esquerda.
É óbvio que é hora dos pilíticos terem juízo, e que Portugal carece dum entendimento entre os 3 partidos que governam, à vez, para deixarmos a ventilação assistida.
Mas a meridiana decisão de Cavaco cria  estabilidade política, ou 330 dias de pântano? Um governo precário ajuda a clarificar a situação ou baixar a temperatura política? Nos próximos 11 meses (um instantinho), com eleições à vista, a oposição vai limpar as armas, o PS vai fugir dum acordo como o diabo da cruz, e um governo moribundo e enxovalhado não vai ter força para conseguir inverter o ciclo, reduzir despesa e 'passar' as avaliações trimestrais.

p.s. 1: Quando se esperava um puxão de orelhas, Cavaco ignorou olimpicamente Passos e Portas, como se faz às criancinhas, que sabem como é mais perigoso o silêncio esfíngico do pai, que um feroz sermão. No caso de Portas, o bailarino que tropeça nos próprios pés (metáfora de Sócrates), é uma vingança gelada de 20 anos.
p.s. 2: Não se faz! Álvaro Santos Pereira já tinha pago os bilhetes para Toronto.
p.s. 3: declaração de interesses - votei numa ala deste governo, e não queria mudar de governo, mas que o governo mudasse (o que podia acontecer com a sua versão 2.0).  

Sem comentários:

Enviar um comentário