quarta-feira, 21 de novembro de 2012

OS BUCHAS DE BOTERO

Botero anda por aí. À exposição de 80 peças que decorre em Bilbau, o octogenário de fresco (n. em 1932) junta a mostra em Lisboa da sua via sacra - 27 óleos e 34 desenhos à volta da paixão de Cristo. Poder-se-ia considerar uma abordagem inusitada a transposição da história para os tempos modernos (como a crucificação em Central park ou um gay arrancando as vestes de Jesus), mas a sagrada família com tricórnios setecentistas, de Machado de Castro, atesta que sempre houve essa tentação.   
O pintor vivo mais famoso da américa latina foi muitas vezes menosprezado pela sua pintura figurativa naif - os críticos que descreveram o seu trabalho como 'kitsch barroco provinciano' ou as suas personagens como 'fetos concebidos por Mussolini e uma camponesa singela' devem ter comido o seu chapéu como o Patacôncio, quando a sua cotação subiu.

Botero não teve educação artística formal, mas aprendeu com os mestres, durante o périplo por Madrid, Paris e Florença, onde conheceu o ídolo Velasquez ou Piero della Francesca (onde foi buscar as figuras calmas e enigmáticas, o 'movimento estático', a luz sem sombras e a disposição dos volumes) ou as estadas no México do modernista Diego Rivera (com as composições grandiosas e figuras estereotipadas que enchem a tela) e em Nova Iorque, onde se cruzou com os abstraccionistas americanos - que lhe 'autorizaram' a liberdade das (des)proporções e pintar, por exemplo, um bebé colossal ao colo duma ama minúscula. Mistura-se esse potpourri com a pintura barroca colonial, inocente e imperfeita, e já está.   
Bem, quase, ainda falta depurar um estilo próprio, o que demorou alguns anos: depois dum início algo errático e com telas irreconhecíveis, só na primeira metade dos anos 60 é que Botero encontrou a sua marca, as figuras XXL desproporcionadas (corpos dilatados, com feições e seios liliputianos) e as formas sólidas e telúricas, em telas gigantescas - Botero é o bucha do estica Giacometti. Botero nega pintar pessoas gordas, e na verdade as pessoas não aparecem mais gordas que o resto, tudo é volumoso, tudo é exagerado.    
Outros traços, a ausência de sombras para não contaminar as cores, que valem por si, os corpos opulentos e sumptuosos, mas sem erotismo, as imagens domingueiras com gente aprumadinha, que 'olha o passarinho', o semblante sério - a dor ou a alegria estão tão ausentes que, comparando, o sorriso de Gioconda é uma gargalhada. 
Os seus motivos são tipicamente latino-americanos, como a igreja, a família, a tourada (aos 12 anos, frequentou uma escola de tauromaquia). Não se espere dele qualquer crítica assertiva, mesmo os ditadores são tratados com uma ironia amigável - Botero diz que põe pinceladas de amor nos quadros. Com uma ou outra excepção, como a sua série sobre a cadeia de Abu-ghraib, assunto sobre o qual o pintor se sentiu impedido de ficar calado.   
Botero afirmou-se 'o mais colombiano dos artistas colombianos' e até percebe-se porquê, mas é um título arrojado para quem emigrou em 1960 e, desde 1967, deixou de ter lá a sua primeira residência.

E depois há o Botero escultor, que justifica um reconhecimento (mais) generalizado. Não é qualquer um que exibe as suas brilhantes estátuas de bronze na florentina Piazza della Signoria, nos Champs Élisées, na 5ª Avenida... ou na Praça do Comércio, durante a expo 98. Botero apenas lhes reconhece o valor estético: 'As minhas esculturas não transportam qualquer mensagem especial (e) não têm qualquer significado simbólico. Só me interessa a forma - superfícies suaves e redondas, que dão ênfase à sensualidade do meu trabalho'. Se Magritte afirmou que um cachimbo não era um cachimbo, Botero diz que o seu gato é apenas um gato.    
Com mais de 3000 pinturas e de 200 esculturas, difícil é escolher uma pequena mostra do prolífico Fernando Botero. A minha escolha é...

Ecce Homo. 1967
 El Capitán/The Captain. 1969
 Retrato Oficial de la Junta Militar/Official Portrait of the Military Junta. 1971

Delphine. 1972

 Los Amantes/The Lovers. 1973

Woman stapling her bra.1976
Gato en el Tejado/Cat on a Roof. 1978

El Ladrón/The Thief. 1980

Guitarra y Silla/Guitar and Chair. 1983

The Matador. 1985

Caballo del Picador/Horse. 1986

Picador. 1986

La Cornada. 1988

 Pareja Bailando/Dancers. 1987 

 El Baño/The Bath. 1989 

Visita de Luis XVI e Maria Antonieta a Medellin/
Louis XVI and Marie Antoinette on a visit to Medellin. 1990

Bananas Bananos/Still Life with bananas. 1990

Caballo del Picador/Horse. 1992

La Loca. 1996

Pera/Pear. 1997

Rapto de Europa/Kidnapping of Europe. 1995

Rapto de Europa/Kidnapping of Europe. 1998

Hombre en Caballo/Man on Horse. 1998

Caballo/Horse. 1998

La muerte de Pablo escobar/Death of Pablo Escobar. 1999

Perro/Dog. 2002 (pastel)

El Seminario/The Seminary. 2004

Abu Ghraib 52. 2005

Via Crucis: la pasión de Cristo (Judas Kiss). 2010-11

Via Crucis... (The Disrobing of Christ). 2010-11

Via Crucis... (The Path of Lamentation). 2010-11
Via Crucis... 2010-11


Leda e o Cisne. Praça do Comércio 1998 

Male Torso (1992). Colecção Berardo, Sintra

Caballo (1992). Aeroporto El Prat, Barcelona

Gato. Barcelona

Mano. Madrid

Pareja Bailando

Rapto de Europa. Medellin


Mais em
http://www.snpcultura.org/paixao_Cristo_segundo_botero.html
http://www.wikipaintings.org/en/fernando-botero
http://www.googleartproject.com/collection/museo-botero-bogota/

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