quinta-feira, 22 de novembro de 2012

É A ECONOMIA, ESTÚPIDO


- A coisa já estava tremida. E com a subida do IVA de 6 para 23% (já devem ter percebido que a colecta não subiu, desceu), foi mais uma cajadada nas vendas: os cafés vendem menos e os restaurantes usam os funcionários para fazer os rissóis, ou compram a desempregadas biscateiras que os fazem em casa, depois encomendam-nos alguns para ter facturas e justificar a mercadoria. E são umas atrás das outras, agora ando a ver se resolvo uma multa da segurança social, que recebi sem saber ler - 10.008€.
- ...?
- No início do ano, tivemos que mandar 3 pessoas embora. Mas o trabalho está quase parado e, no fim do verão, conversei com a nossa funcionária mais velha, já sem filhos a cargo, que aceitou ir para o desemprego. Não sabíamos, mas a lei proíbe despedir mais que 3 pessoas ou 1/4 do pessoal - recebi uma carta com uma multa à conta dum artigo qualquer [63º do decreto-lei 220/2006], porque criei à senhora a falsa expectativa de que tinha direito ao subsídio, e agora pago eu esse valor.
- Foi à segurança social?
- Fui, perguntei se não é preferível despedir uma pessoa a fechar a empresa e irmos as 8 para o desemprego. Responderam que a única coisa a fazer era recontratar a pessoa com a data do dia seguinte ao despedimento - ainda fui a casa da senhora, tentar convencê-la a voltar, mas ela habituou-se depressa a ficar em casa, e entrou de baixa, já não dá.
- E agora?
- Não sei, eu quero resolver, mas o Estado não parece interessado em ajudar, parece que faz de propósito para nos afundar. Há mais: recebi uma carta das finanças a dizer que devia 5000€ de IVA. Fui pedir para pagar em prestações, mas tive que esperar 30 dias e depois outros 30 após o prazo de pagamento, só para meter o requerimento - resultado, fiquei a dever 6500€ com a multa e os juros agiotas. Mas não acaba assim: só aceitam prestações se eu apresentar uma garantia bancária. Pois, então, se eu tivesse dinheiro no banco, pagava, não é?
- Claro.
- Andei um tempão a caminho do banco (e os juros a crescer), até me passarem um papel a dizer que, no momento, a empresa não tinha liquidez. Voltei às finanças e propus dar os bens da empresa como garantia, mas não querem bens, querem dinheiro vivo. Agora exigiram um seguro-caução!!!
- E como? Qualquer seguradora vai-lhe tirar o couro e o cabelo, para assumir o risco.
- Eu nem sei o que é um seguro-caução. 
- Bem, de qualquer forma, o IVA que deve também o recebeu de outros, não é?
- Parte, é que também estou a dever IVA (mais juros) que ainda não recebi, tenho uma pilha de cobranças em atraso, algumas há 6 meses e de valores ridículos, de empresas maiores que a minha.
- Desconfio que, no próximo ano, vamos ouvir várias conversa assim, o comércio vai piorar ainda mais e vai ser um dominó.
- Não duvide. Mas isto são apartes, vieram cá verificar se eu já tinha reparado o chão. Olhem, eu quero, mas não tenho dinheiro. Essa parte do piso tem 2 anos e está pior que o resto que é antigo, mas não posso reclamar os 2500€ ao empreiteiro. Faliu e não vale a pena ir para tribunal, já existe uma fila de credores à minha frente...

Esta conversa aconteceu mesmo, é real o Estado cego, o fisco voraz e a economia em ocaso - é real este país em quarto minguante.  
Com sorte, o crente Victor Gaspar acerta e a seguir vem a lua nova. Ou acertam os outros todos, e o ministro o que está a fazer, com o 'custe o que custar', é terraplanagem - e, quando regressar à sua carreira em Bruxelas, Portugal será uma paisagem lunar

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