sábado, 7 de julho de 2012

AL-ANDALUS - CÓRDOBA


Porquê visitar Córdoba? No meu caso, por causa de romances históricos.
Não estamos a falar duma cidade qualquer - capital do califado Omíada do Ocidente (sunita e adversário dos califas fatímidas do norte de áfrica, xiitas), era no ano 1000 um expoente na medicina, matemáticas e astronomia, considerada a principal cidade da Europa ocidental: entre 1/2 e 1 milhão de habitantes, centenas de mesquitas, 70 bibliotecas, uma universidade, 1 escola de medicina. 
São de lá o filósofo estóico Séneca (o perceptor que Nero mandou executar, correspondente de São Paulo e influenciador do Calvinismo), e 2 médico-filósofos conhecidos nos seus tempos, o muçulmano Averrois, o que deu a conhecer Aristóteles à Tomás de Aquino e à Europa, e o judeu Maimónides.
Está-se a falar do local onde existe a mais fascinante mesquita que sobrou dos 7 séculos (711- 1492) de presença árabe na península, com os seus arcos zebrados.
Houve aqui outro povo que nunca governou, mas assentou praça durante muitos séculos, os judeus sefarditas - entre a acalmia e a perseguição, até à expulsão colectiva em 1492: lá está a judiaria, uma das 3 sinagogas da época que há em Espanha (transformada num hospital para doentes de raiva e depois em sede da ‘guilda’ de sapateiros) e uma casa de memória, com nomes de pessoas condenadas pela inquisição (ler os nomes na parede é diferente de ler um número – como diria o outro, poucos são desgraça, muitos são estatística) e histórias absurdas, como o despejo inadvertido dum alguidar pela janela, ao passar duma procissão, ter acabado na condenação de 150 cristãos-novos.
E ainda lá há ruas estreitas, os pátios mouriscos andaluzes, com fontes e tamareiras, as floreiras e as persianas de corda, munições contra o sol opressivo.
Tudo boas razões, não é?
 
O problema de visitas destas é que o compromisso obtido não satisfaz nenhuma das partes, o ritmo do percurso é demasiado para uns e insuficiente para outros. Às vezes parece uma checklist, para evitar ‘secas’ e porque os miúdos têm urgência em voltar para a piscina – desconfio que lhes bastava ter ido para um hotel no Porto, desde que tivessem onde tomar banho…   


Quarto com vista para a Mesquita e ponte romana

A mesquita de Córdoba, a 3ª maior do mundo (23.000 m3), foi erguida em 756, onde assentava uma igreja visigoda, ela própria levantada sobre um templo romano dedicado a Janus – porque adaptada, não está orientada para Meca.
Alvo de 3 ampliações durante o califado, bem visíveis se tivesse feito o TPC*, transformou-se uma mesquita-catedral, quando foram adicionadas composições cristãs (incluindo a capela-central) – o inverso, afinal, do que sucedeu na turca  Hagia Sophia –, de arquitectura gótica e, depois, barroca.
Dizem que Carlos V, que permitiu a ‘invasão’ cristã da mesquita, se arrependeu: ‘Destruíste algo que era único no mundo’.
  
Uma das portas da mesquita (ampliação de Almansor) 
 Colunatas (ampliação de Almançor)  
* 11 naves originais com duplos arcos em tijolo, colunas de mármore e capitéis clássicos; 1º aumento de 7 arcadas com colunas bizantinas e telhado de madeira; 2º aumento de 12 arcadas, deixando a abóbada passar a luz; último acrescento já com arcos pintados, a substituir os tijolos.
 
 Duplos arcos 
 Ampliação de Al-Hakam II
Detalhe da Qibla, parede de acesso ao Mihrab (sala que orienta para Meca) 
Friso da Qibla com inscrições do Corão

Pátios andaluzes  
  
Porta na judiaria 
Praça Maimónides 
Cavalariças reais, picadeiro 
O Alcazar dos Reis Católicos tem uma provecta idade.
Já no tempo dos romanos, que abancaram durante 800 anos (desde a tomada da colónia cartaginesa em 206ac, até à entrega aos visigodos em 572), era Corduba capital da Bética, ali havia uma fortaleza que dominava o Guadalquivir e a ponte que dava passagem à via Augusta, na altura um itinerário principal.
Depois dos visigodos, vieram em 711 os muçulmanos, que o escolheram para palácio do califa.
As 1001 noites começaram em acabaram em 1236, com a conquista pelos castelhanos, e 90 anos depois transformou-se num palácio-castelo gótico. Praça-avançada dos Reis católicos, ali foi Cristóvão Colombo a despacho, a pedir patrocínio para encontrar um atalho para a Índia.
Perdida a importância em 1492, quando se tomou Granada, passou a Tribunal da Inquisição e, 3 séculos depois, a prisão - tudo com as 'benfeitorias' feitas pelos inquilinos.
 
Sarcófago romano, sec. II-III 
(proprietário com filósofo, esposa com símbolos de castidade, ao meio porta do Hades entreaberta) 
Palácio dos Reis católicos, Torre de Menagem

Pousada do Potro, referida no D. Quixote como antro de rufias 
Praça da Corredera (onde foram encontrados mosaiscos e 
vestígios de villas romanas, e palco de execuções da Inquisição) 


Primeiro era um emirado, instalado em Córdoba pelo deposto califa de Damasco. O 8º emir, Abd-al-Rahman III, autoproclamou-se califa e naturalmente mandou construir uma nova capital em 936, Madinat al-Zahra, ali perto, no sopé da serra Morena. Mas a cidade não sobreviveu à guerra civil e às invasões berberes do Norte de África (1010-13), à queda do califado Omeya do Ocidente (1031) e à divisão do Al-Andalus em vário reinos taifa.    
Demorou 40 anos a construir e foi destruída ao fim de 35, expliquei no caminho. Então o que é que lá vamos ver, pedras?, foi a pergunta pertinente.
De facto, havia pedras no que está à mostra (1/8 de 112 hectares), mas percebe-se o que são as pilhas. Ajudam os folhetos e o museu algo interactivo que se visita antes. Porém, fica-se com a suspeita de que as explicações têm uma parte de dedução e outra de intuição – presume-se que ali sejam os quartos dos guardas, aquela é a presumível casa do 1º ministro Ya’far, ali havia criados dos 2 sexos, porque há 2 latrinas separadas, …
Curiosidade: o mármore foi escavado em Estremoz, e parte foi no fim parar a Braga, a uma das catedrais ibéricas agraciada com o saque dos conquistadores católicos.
 
Porta de Ya'far 
Salão Rico 

Um bom site http://www.artencordoba.co.uk/index.html

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