sexta-feira, 18 de maio de 2012

ESTE PAÍS É PARA MEIA-DÚZIA


O despacho conjunto 774/2012 das SE ensino superior e da ciência, de 11/1/2012 (mas com efeitos a partir de 28/6/2011), nomeia Helena Isabel Roque Mendes, para funções de apoio e de interface. Além do salário, aufere 'Nos meses de Junho e ...Novembro, outra mensalidade igual, a título de abono suplementar'. São uns criativos a conceder aos filhos  o 13º e o subsídio de férias que tiram aos enteados.
Por ajuste directo, Relvas contratou, para o seu gabinete, o motorista do grupo parlamentar do PSD, por €73.446 - mas esqueceu-se de publicá-lo na prometida página de nomeações do governo.


Este país não é para velhos era o título dum filme. Este país é para meia-dúzia, disse-me um colega zangado com estas chico-espertices e com mais uma intenção do governo, poder mandar funcionários públicos (escolhidos a dedo pelo chefe) para outro ponto do país.
A juntar à redução da 'mesada' em 5% (obrigado Sócrates), a perda ad eternum de 2 dos 14 salários, a perda de feriados e do Carnaval (peanuts, comparado com o resto), a pretensão de reduzir o custo de cada hora extra (a quem as recebe), é uma espécie de bullying reiterado, seguindo a táctica de apresentar primeiro uma medida insultuosa e depois moderá-la com uma versão mais soft - 3 passos de caranguejo, 1 passinho de bebé...
E quem não gostar, a porta é a serventia da casa. Como disse o centrista João Almeida, se os funcionários públicos 'não estiverem disponíveis têm sempre como alternativa a hipótese de negociarem a sua situação contratual'... Pode dizê-lo, pois aceitou a mobilidade especial: ora deputado por Lisboa, ora deputado pelo Porto - presumo que com direito a simpáticas ajudas de custo, mesmo continuando a viver na capital.

Mas o cisma não é só com os FP. É dar tempo e anda tudo à batatada: trabalhadores contra desempregados, velhos contra novos, públicos e privados, nacionais e imigrantes. E está instalada a SCHADENFREUDE,  um termo alemão (claro!) sem tradução, como a nossa saudade - a alegria sentida com a infelicidade alheia*.
A schadenfreude explica como as medidas que afectam os 'malandros' dos FP são ovacionadas. Foi engraçado ver uma senhora telefonar para um forum da SIC, apoiando exaltadamente a mobilidade dos FP, pois são pagos 'pelos nossos impostos', o que até podia ser verdade, mas o rodapé dizia Maria Reis - desempregada, Oeiras. Ironia, se calhar o seu merecido subsídio é também pago com os impostos (até ao último cêntimo) dos FP.

Na China, sê chinês. E como isto não tarda é tudo chinês - e o interruptor da luz já é deles -, o governo vai desregulando o trabalho (seja privado, seja público), reduzindo salários, cortando em coisas tão irrelevantes como transporte de doentes. Apenas na receita é socialista, arrecada o que pode.
Antes da eleição, Passos elogiou os orçamentos de base zero, à Porto Alegre, mas o que pretende agora é direitos de base zero (obviamente que os direitos não são vitalícios por si só, mas é indesmentível que estamos a andar para trás).
Não foi isso que Passos prometeu (cortar o 13º era um disparate, disse), e agora impõe uma agenda yuppie - não por obrigação, mas por convicção, como fez questão de afirmar.
Razão tinha a Ferreira Leite, quando riscou o Passos da lista de candidatos a deputados, em 2009: era pôr a raposa no galinheiro, disse.

* Não é esse o sentimento da formiga sobre a cigarra, ou dum nórdico sobre os gregos, fizeste a cama para te deitares?

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