quinta-feira, 10 de maio de 2012

BABEL VIRTUAL

 Torre de Babel, Pieter Brueghel o velho (1563)

Fez há dias 2 anos que opinei sobre o facebook, enquanto não-membro.
Aderi mais tarde, primeiro para manter o farmville (a que na altura chamei uma espécie de tamagoshi à borda d'água) da minha cara-metade, quando foi à eurodisney com a prole, depois em conta própria, para poder mandar-lhe pregos e tábuas.
A opinião de outsider foi recebida com desdém pelos associados, do género ele-não-sabe-do-que-fala.
E agora, mudei de opinião?
Imagino o mesmo ginásio com má acústica, cheio de gente: há quem seja DJ incontinente, pondo músicas mais depressa do que consegue ouvi-las; há quem nunca (mas nunca) abra a boca, só levanta o polegar a dizer que gosta; há quem se limite a dar parabéns ou desejar boas festas; há quem exiba fotografias dos filhos ou das últimas férias; outros circulam com cartazes políticos (agitprop) ou apelam a correntes de solidariedade; há quem repita frases do Citador, geralmente de auto-estima; há os ardinas que ecoam manchetes de notícias online; outros comunicam resfriados e recebem as melhoras; uns contam anedotas e outros (como eu) falam sobre tudo e sobre nada, de forma avulsa, como aqueles maluquinhos que deambulam na rua; e há quem apenas se dedique a 1, 2 ou mais jogos em simultâneo.
Enfim, uma Babel, onde temos que ser selectivos - como num bar do costume, entramos e procuramos o 'nosso grupo'.

p.s.: uma pessoa explicou-me que raramente lá passa, acha o facebook um exercício de bisbilhotice e uma exibição das coisas giras de vidas medianas, tal como as pessoas da sua freguesia vestem a melhor roupa ao domingo, para serem vistas e invejadas - pessoa essa que, na vida real, até é, digamos, curiosa.  

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