quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

MESA PÉ-DE-GALO

casa Carlos Relvas

No verão passado, encontrei um amigo. A meio da conversa, o primo dele disse que tinha um Matisse. A sério?, perguntei. 
- Verdade. Chama-se arte mediúnica, Matisse incorpora numa pessoa e pinta uma série de telas.
É difícil acreditar que Matisse vá a Chelas (sim, Chelas) pintar vários quadros de rajada. E se o J. pagou pela obra, então é tramóia na certa. Mas o dito acredita piamente nessas coisas: contou-me o meu amigo que, quando esse primo diz que o pai está em Bordéus, confunde as pessoas que pensavam que o senhor tinha morrido – porque de facto morreu.

As reuniões (pro bono, convém dizer) não têm nada a ver com charlatanices como vidências e leituras de cartas. Uma amiga explicou-me que se juntam para rezar por espíritos que ainda cá andam: como no filme ‘O 6º sentido’, há casos em que não percebem que morreram. De forma espirituosa (que palavra apropriada!), outra amiga mais telúrica explicou que é uma espécie de GPS, ajuda a encontrar o caminho.
Toda a gente conhece testemunhos em 1ª mão de pianos ou rádios que tocam sozinhos, cuja explicação (ainda) desconhecemos. Eu tenho alguma curiosidade desconfiada (credível era o médium dizer algo concreto que ninguém presente tenha forma de saber, e possa ser confirmado) mas, se las hay, não as quero ver nem por perto. Já há suficientes encostos cá por baixo.
Fosse verdade e ainda havia o problema da privacidade: é incómodo alguém estar a ver-nos, sei lá, meter o dedo no nariz – mesmo que o segredo fique bem guardado. Tinha um amigo na secundária cuja preocupação era o avô assistir às suas urgências da puberdade…

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