segunda-feira, 11 de julho de 2011

MNAA 3. NAMBAM, OS BÁRBAROS DO SUL

A arte Namban desenvolveu-se durante todo o século XVI no Japão, influenciada pelos primeiros contactos comerciais com os europeus - Namban vem de Namban-jin, que significa bárbaros do sul, como gentilmente lhes chamavam -, e os primeiros a instalar-se foram os portugueses em 1543.
Com algum jeitinho, encontra-se um paralelismo entre as representações dos homens narigudos, com as suas vestes e práticas, e a carta de achamento do brasil de Pero Vaz de Caminha, ambas primeras impressões de povos diferentes.
Das 60 peças nambam que se estima existirem, 2 pares de biombos vieram parar a Lisboa. Valem não só como testemunho histórico e colorido da gesta portuguesa, mas como um trabalho artístico excepcional, de grande minúcia e beleza.
A própria montagem da peça merece relevo: um número par de folhas unidas através duma moldura articulada e charneiras de papel; sobre um leve engradado de madeira de criptomeria colaram-se sobrepostas folhas de papel de amoreira, da mais grossa para a mais fina, revestida a folha de ouro e pintura a têmpera; armação debruada a seda e rematada a laca, e rematada a laca.
Pela sua função, os reversos dos biombos também são decorados requintadamente.

Par 1 (com o selo de Kano Naizen, 1593-1601)
Painel esquerdo
Representa os tumultuosos preparativos para a saída da nau portuguesa, de 3 mastros e altos castelos de popa e proa, dum porto - a arquitectura "estrangeira" (achinesada, o mais próximo que o pintor conheceria; porém, no provável palácio do vice-rei, a cruz cimeira, o chão ladrilhado, a forma de prender as janelas e o desenho das portas são tipicamente portugueses), os elefantes e os cavalos árabes ou persas, talvez adquiridos em Ormuz, apontam para que seja Goa.
Na cena vemos um ilustre homem protegido por um parassol e transportado num palanquim, mulheres dentro de casa (de feições orientais e vestes europeias), homens sentados em cadeiras de tesoura, acenando para a nau, e um batel transportando uma última visita.
Clique na imagem de pormenor do barco, para ampliar.







Painel direito
A nau de Goa, de velas recolhidas mas ainda não ancorada, chega a Nagasaki. Na coberta, ilustres conversam e bebem (sake?) e, em terra, um grupo vigia a descarga da mercadoria, que inclui animais exóticos (mais uma vez, cadeiras de tesoura para os mais importantes). Um cortejo de religiosos, comerciantes, serviçais, o capitão-mor (com o parassol) e animais exóticos dirige-se para a cidade, representada pela igreja onde 2 homens rezam. 3 portugueses avisam os religiosos (jesuítas, agostinhos, franciscanos e dominicanos) da chegada da nau, observados por um grupo de japoneses curiosos.
Clique nas imagens de pormenor seguintes, para ampliar. 



Par 2 (atribuído a Kano Domi, 1593-1602)
Painel esquerdo
O painel direito reproduz a chegada de outra nau a Nagasaki. Enquanto um jesuíta controla o desembarque das ricas mercadorias para um batel, o capitão-mor, oficiais e mercadores negoceiam no convés. Em terra, duas personagens maiores (ostentando um apito preso por correntes de ouro) conferem a descarga da seda em rolos ou fardos, caixas lacadas e outras preciosidades.
Clique nas imagens anterior e seguinte, para ampliar.








Painel direito
Nesta representação do intercâmbio económico e cultural de japoneses e europeu, um cortejo desloca-se para a Companhia de Jesus, presidido pelo capitão-mor (o do parassol) e abastecido de mercadorias para vender ou oferecer às dignidades locais, como um cavalo persa, sedas chinesas, animais exóticos enjaulados, potes vidrados para guardar especiarias e uma cadeira de dobrar. Na casa da Companhia, um jesuíta conversa com um daimiô, ou senhor feudal. 
Clique nas 3 imagens, para ampliar.



"Os Biombos Namban”
Os biombos Namban contam
A história alegre das navegações
Pasmo de povos de repente
Frente a frente

Alvoroço de quem vê
O tão longe tão de pé

Laca e leque
Kimono camélia
Perfeição esmero
E o sabor de tempero

Cerimónias mesuras
Nipónicas finuras
Malícia perante
Narigudas figuras
Inchados calções

Enquanto no alto
Das mastreações
Fazem pinos dão saltos
Os ágeis acrobatas
das navegações

Dançam de alegria
Porque o mundo encontrado
É muito mais belo
Do que o imaginado

Sophia de Mello Breyner
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