terça-feira, 28 de junho de 2011

OS NOSSOS BRÂMANES


Apesar de extinto oficialmente em 1950, a cultura hindu ainda não abandonou totalmente o sistema de castas na India.
Originalmente, as pessoas eram divididas em 4 grupos fechados (chegando a haver 3000 subcastas), de acordo com a sua posição social hereditária, que não podiam ser transpostos: os brâmanes (religiosos e letrados), os xatrias (guerreiros e governantes), os vaixias (proprietários agrícolas, comerciantes e artistas), e os sudras (servos camponeses, artesãos ou operários).  Os primeiros teriam nascido da cabeça do Brahma, os segundos dos braços, os terceiros das pernas, os quartos dos pés.
Fora do sistema sobravam os párias ou intocáveis, nascidos da poeira sob os pés do deus criador do universo, os adivasis (povos tribais) e os mechhas (estrangeiros).

Nós por cá também temos uma casta, endógena - embora o acesso seja permitido (sob convite, como no grémio), a permanência está garantida. São os políticos, aqueles que aparecem na televisão e milhares de outros incógnitos.
Para eles está reservado um mercado de trabalho exclusivo, imune a conjunturas económicas e distribuído mais ou menos independentemente da subcasta (partido). Pataca-a-mim, pataca-a-ti.
Esta casta está no topo da hierarquia, mas podia levar o cognome do grupo inferior hindu, os intocáveis.
Ora, o novo governo está cheio de independentes, mas abaixo de Secretário de Estado são "os do costume" e já está muita gente em campo, para manter ou ocupar largas centenas de lugares: por estes dias, devem haver um pico nas despesas em telemóvel (do serviço?) e restaurantes caros. Despesas de representação, certamente...
Uma coisa sei, há pessoas cuja profissão é dar uso à agenda telefónica.

Eu também fui almoçar, mas à fnac, com um amigo que está por dentro da política com minúscula. Apareceu um seu conhecido e a conversa acabou na "apanha dos tachos".
Contou ele que um secretário de Estado, dum ministério que não quis revelar, lhe contara que tinha tudo pronto para trocar um director qualquer, e que recebera 4 telefonemas, "de áreas políticas distintas" para mandar parar a substituição - o que sucedeu.
O meu amigo, reparando que me engasgara com o sumo, perguntou "Estavas à espera de quê? Vai-se a ver e é da opus dei."
Tá bem, já tenho idade para não ser ingénuo.
Mas ainda estou na idade dos porquês: não sei de o termo "mandar" foi usado, ou foi imaginação minha, mas o que faz um governante acatar ou ceder perante telefonemas, alguns deles de pessoas de outros partidos? Pode ser que, no ano seguinte, seja ele a fazer 'o' telefonema? Por ser da mesma casta?

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