terça-feira, 23 de novembro de 2010

PAGA E NÃO BUFA???


Há muitas razões para se participar na greve geral de 24/11, e muitas explicações para não o fazer.
Uma amiga esclareceu “fiz todas as greves dos professores no ano passado, e a maralha depois foi votar no Sócrates, quando ele voltou a ganhar prometi não fazer mais greves”. Tá certa.
Um colega respondeu “não vou deixar que o governo me retire mais um bocado do meu salário, já chega”. Há até um lado positivo, os grevistas do Estado vão ajudar a controlar o défice, são milhões de euros que o governo vai poupar por não pagar o dia aos grevistas – é uma espécie de reedição ao contrário daquele dia que o Vasco Gonçalves instituiu em 1975, em que todos os portugueses trabalhariam de graça em prol do país. E ainda vai tudo aproveitar para fazer compras pró Natal, põe a economia a carburar.
Uma operária justificou-se com um “não ganho o suficiente para prescindir dum dia de salário” e uma colega minha explicou “a greve não serve para nada, fica tudo na mesma”.
Terão todos a sua razão.
Mas conhecem a expressão “
cala e não bufa”? O povo paga a crise, mas ou come-e-cala, ou reclama do preço. A greve é isso, é a alternativa mais ruidosa – das não violentas – para bufarmos.

... enquanto isso, o Estado é zeloso:
. A administradora da Fundação Guimarães Cidade Europeia da Cultura (onde o trabalho é intenso e altamente qualificado, presumo) resolveu reduzir o salário em 30%... para 10000 euros mensais.
. Um assessor dum ministério acumula o salário principesco com o subsídio de desemprego recebido por atacado para fundar uma empresa que não iniciou actividade.
. A assessora de imprensa da ministra da saúde ganha mais que a ministra, vários milhares de euros mensais.
. O PS votou uma alínea do orçamento que isenta da redução salarial o sector empresarial do Estado, dadas as suas especificidades…
. 5 milhões de equipamento de segurança chegam depois da cimeira da nato, a razão da sua compra.
. Parece que somos fiadores da Irlanda, se ela não pagar o empréstimo de 1500M€, a gente paga ahahaha.
. A pièce de résistance, Timor – um dos países mais pobres do mundo, a quem Portugal ajuda há anos – pondera investir parte do seu fundo petrolífero na nossa dívida pública. Amor com amor se paga. Não têm vergonha?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

SURPRESA!!!


Como dizia a mãe do Forrest Gump, a vida é como uma caixa de chocolates, nunca sabemos o que vem lá dentro. Eu diria isso dos livros, volta-não-volta temos umas surpresas. Cá vamos.
Deve acontecer com toda a gente, compro livros ou porque já li outros do mesmo escriba, ou pelas capas, ou pelo resumo, ou pelos comentários entusiastas da contracapa, ou ainda porque alguém me falou nele, ou por causa de entrevistas que calha ver.

Pois o que estou a ler, comprei depois de ver a entrevista do Mário Crespo ao director do Expresso, Henrique Monteiro. A personagem é uma velha com 88 anos, que vai galgando assuntos, repassa uma vida intensa desde a guerra civil espanhola, enquanto vê o mar da sua cadeira.
Fui convencido quando o autor leu na SIC notícias o parágrafo que encerra um capítulo.
É triste que não morramos duma vez, mas aos poucos. E a parte mais triste é sempre aquela que persiste em viver. A minha cabeça mantém-se fora do mar, mas quase todo o corpo já se afogou. Sou, pois, uma náufraga de mim própria, à qual, já não podendo retirar o resto do corpo da água, resta esperar que a maré suba, de modo a afogar-lhe o que falta. Ou ter a ousadia de mergulhar…
Promete, não promete?

Estava preparado para tudo, menos para o parágrafo anterior, a razão daquela metáfora: a senhora quis tocar nas partes íntimas e deparou-se com a fralda.
Não sei se interessa para o caso, Monteiro Henrique escreveu o romance (é assim-assim) em duas quinzenas, como conta na última página…


n.r.: Salvador Dali 1929

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

CONTAS DE MERCEARIA


Seis em cada dez euros da contenção orçamental em 2011 vão ser pagos pela generalidade da população - os pensionistas e os funcionários públicos vão ser duplamente penalizados.
O Estado retrairá a sua actividade pagando três dos dez euros.
As empresas, incluindo a banca e investidores mobiliários pagarão o um euro que falta para o “bolo” anunciado.

PROMETEM EM POESIA.
GOVERNAM EM PROSA.
Mário Cuomo