terça-feira, 3 de novembro de 2009

1/2. A MINHA AVÓ RECICLAVA

A campanha da Optimus neste verão era “Troca o teu telemóvel pré-histórico”. Eu nem sou de ecosermões, e vou no 7º telemóvel em 14 anos, mas o soundbite é o apelo mais descarado ao consumismo: deita fora o telemóvel que ganhaste no natal e serve para telefonar, por um novo (com GPS, banda larga, ecrã táctil e ainda vai buscar os miúdos à escola) que será velho no próximo natal! I.e., deixa-te consumir pelo consumo.
É por isso que a poupança dos portugueses definhou em 30 anos com a mesma rapidez com que o crédito bancário se multiplicou: na altura, o povo era FRUGAL, gastava os escudos no que precisava, e por vezes tinha uns pequenos luxos, agora gastamos os euros em coisas menos básicas, nem que se peça emprestado. Bem, mesmo dentro das nossa posses, não haja dúvidas que agora qualquer um de nós vive muito melhor que a própria Rainha Vitória.

E para ter um equipamento novo, há que dar destino ao anterior. Nos EUA são “trocados” anualmente 150 milhões de PC e um valor parecido de telemóveis - parte dos quais é reciclado em fundições medievais na China, por cidadãos que preferem um cancro, se for pago a um dólar/dia.

Pois a minha avó reciclava e não sabia o que era uma pegada ecológica: as meias rotas eram serzidas, as compras eram carregadas num carrinho de lona axadrezada e as batatas vinham para casa em sacos de nylon entrançado; as máquinas eram consertadas, pois a reparação era muito mais barata que um aparelho novo; os sacos de pão e as fraldas eram de pano, os iogurtes e o leite vendiam-se todos em frascos de vidro e as caixas de lápis eram de madeira com tampa corredia… mas o meu símbolo preferido da reciclagem é a AÇORDA, que não se fazia só por gastronomia.
Agora é tudo descartável, e de plástico, curiosamente um material que a Terra não consegue descartar (conceda-se, como a globalização, o plástico é também responsável pelo baixo custo dos produtos).

2 comentários:

  1. Caro Luís. Pergunto-me várias vezes, no dealbar das minhas muitas viagens diárias, para onde estamos a ir realmente. Ouço e leio os arautos da economia e cada vez mais me convenço que são como Sócrates, o filósofo ( agora temos de dizê-lo assim....), não sabem nada. Prevêm o previsivel, arriscam os minimos, apontam caminhos...inviáveis. estão tão á deriva como a civilização que tentam, em vão, nortear. A boa verdade é que reside no consumo, puro e duro, a mola da economia. Especulação, corrupção e afins, são apenas corredores laterias de oportunistas que engordam com os desperdícios de uma sociedade ávida de tudo e de nada. O luxo e o superfluo andam de mão dada em 10% desta esfera doente, enquanto os restantes fazem o que podem e o que não devem para tão só, sobreviver. Desculpa a expressão mas que bela merda de mundo é este por nós gerado. Antes de matarmos tudo o que mexe, havemos de perecer ás mãos do nosso próprio desespero... JF

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