quinta-feira, 30 de julho de 2009

Quando for grande, quero ser...


A minha filha diz que vai casar com o Zézinho. Acho que baralhei aquela cabecinha, mas expliquei-lhe que não, isso não deverá acontecer, o mais provável é casar com alguém que ainda não conhece.
O mesmo se passa com a profissão que as crianças querem ter quando forem grandes. Há a hipótese aventura-barra-salvar-o-mundo, tipo bombeiro, polícia ou médico; é a versão Mafaldinha. Depois há as profissões amorosas, como professora ou veterinário, escolhas da Susaninha. Por fim, para miúdos mais espertinhos e que guardam a semanada, “ser rico”, a opção dos Manelinhos.
Certo é que crescemos e raramente vimos a ser o que sonhámos – como o Ronaldo, que satisfaria a turma do Quino, pago para jogar à bola e rico o bastante para salvar uma parte simpática do mundo.
E, nessa altura, escapavam-nos duas variáveis: o dinheiro e o chefe.
Primeiro, o que ganha o bombeiro, o professor ou o polícia chega apenas para, como se diz no Cartaxo, “arremediar”.
Depois, algum de vós, quando queria ser alguma coisa, introduzia um chefe na equação? Não, não havia nenhum comandante bêbado e irascível, nenhum director que lá chegou por herança ou pelo conhecimento certo, nenhum chefe frustrado e medíocre que nos paga mal e chateia a moleirinha.
Eu cá gostava de ter a profissão dum rapaz que revejo no Verão em Milfontes, senior consultant: pago para botar opinião, era mesmo isso que eu queria… ou então, mi-nis-tro ple-ni-po-ten-ciá-ri-o de 1ª classe – só de escrever, sabe bem. Mas, de acordo com o Diário da República, parece crucial ter um nome comprido e pomposo, tipo Duarte Blábláblá Palmela d’Albuquerque. Eu tenho o Duarte, mas é apelido.

terça-feira, 28 de julho de 2009

A culpa deve ser minha


Almeida Santos tem a impressão que “alguns artistas plásticos modernos são trapaceiros” (Sol, 24/7/2009). Acha ele que, se uma pilha de latas de cerveja empilhadas for escultura, não a compreende. Confesso que algumas obras também me suscitam dúvidas.
O Museu Reina Sofia tem um espólio fantástico de arte contemporânea. No acervo há muitos quadros de Miró, desde os mais elaborados a telas de 2 por 4 metros, a quem o Autor entregou apenas um risco vermelho ondulado, sozinho ou acompanhado por outro risco amarelo.
Presumo que lhe chamem arte e valha milhões, e que os entendidos encontrem uma qualquer mensagem subliminar. Eu não! Quem viu a peça do António Feio, o Zé Pedro Gomes e o Miguel Guilherme, acerca dum quadro valioso todo/apenas branco, há-de perceber.
Acho Miró genial, mais pela sua imaginação e estilo inconfundível que pela qualidade plástica, um pouco infantilizada. Parece-me que há pintores espanhóis muito mais versáteis, que sabiam desenhar e pintar o que quisessem, como Picasso, Dali ou Goya.
Mas há outros exemplos das minhas limitações: onde eu vejo apenas 4 jarras (perfeitas) numa natureza morta de Zurbarán, o audioguide descobre uma “profunda e intensa religiosidade que poderia evocar as palavras de Santa Teresa de Ávila, até entre as panelas está o Senhor”...
Assinado: um ignorante fascinado pela mestria dos detalhes da pintura flamenga do sec. XVII, pelo modo como aqueles estafermos conseguiam pintar diamantes e veludo de forma tão real.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sobre os Moralismos na Hora do Voto!

Está na hora de eleger um Presidente para o Mundo, o seu voto é determinante. Apenas sabe os seguintes dados sobre os três principais candidatos:

O candidato A está associado a políticos corruptos e consulta astrólogos. Tem duas amantes. Fuma como uma chaminé e bebe oito a dez martinis por dia.

O candidato B já foi destituído duas vezes, dorme até ao meio-dia, fumava ópio na escola e bebe um quarto de litro de whisky todas as noites.

O candidato C é um herói de guerra condecorado. É vegetariano, ocasionalmente toma uma cerveja e nunca teve casos extraconjugais.

Entre esses três candidatos, qual escolheria?
(responda honestamente)

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Veja agora a chave:

O candidato A - Franklin D. Roosevelt

O candidato B - Winston Churchill

O candidato C - Adolf Hitler


Pedro Mendonça

sábado, 25 de julho de 2009

Alcoviteiras




Vivi no Cartaxo entre os 5 e os 16 anos. Vivi depois em Lisboa, Vila Real, Gaia, Póvoa de Varzim e Matosinhos.
No prédio onde vivia no Cartaxo, as pessoas davam-se com frequência, sabiam a vida uns dos outros – contribuíam mesmo para a sua divulgação –, emprestavam a salsa, cuidavam dos filhos doentes dos outros.
Desde então, nunca mais vivi num prédio assim - por decisão minha, que raramente alimento conversa.
Vivi na Póvoa de Varzim durante 4 anos, frente à praia (caiu-me a parabólica com ferrugem), em Aver-o-Mar, uma freguesia popular em que havia mexerico. Eu nunca soube nada sobre os vizinhos, mas eles logo descobriram a minha profissão, não sei como. Ao lado do meu quarto era a casa duma vizinha com a qual, em 4 anos, falei 10 minutos, 8 deles sobre o elevador que nunca funcionava. A dita, certo dia, disse-me: “ontem houve gargalhada à noite, é que se ouve tu-do”, com um sorriso brejeiro... Tive a sorte de haver no 3º andar umas condóminas que “recebiam” cavalheiros. Soube-o porque me contou a mesma vizinha – respondi-lhe que não incomodam, mal as via e eram absolutamente educadas, incluindo a criança duma delas. Não era da minha conta, desde que o prédio não ficasse mal frequentado - e não ficou.
Agora vivo num prédio com 77 casas e jardim interior, o que facilitaria o convívio. Mais uma vez, investigaram o que eu fazia num instante. E eu continuo anacoreta: há dias, precisava de avisar um rapaz que deixara a luz ligada no carro, e demorei a descobrir o nº da porta. Para o-reformado-que-conhece-toda-a-gente mo indicar, tive que vomitar a informação toda que juntei em 8 anos: tem a carta há pouco tempo, tem um volvo antigo azul metalizado, o pai tem cabelo branco e acho que trabalha na Volvo, tem uma irmã mais nova, os nomes não sei. Só quando disse que achava que o homem do cabelo branco era primo da sua filha (que vive noutra das casas), é que o velhote se lembrou, “ah esse é o (já esqueci), é cunhado da Isabel”.
O mesmo reformado contou-me ontem o seu percurso clínico a caminho duma prótese na anca, com todas as datas e exames - bastou perguntar-lhe "como anda?". Aqui entre nós, não tenho nenhuma curiosidade acerca da vida dos outros vizinhos, embora alguns até possam ser pessoas interessantes de conhecer. É que não gosto de bisbilhotice. Mas azar, agora não peço manteiga à vizinha, mesmo que me falte...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Toirada

É a segunda vez que me enviam este vídeo censurado, um pouco violento, e pô-lo neste espaço é uma (pequena?) PROVOCAÇÃO NUMA TERRA DE TOIROS.

Confesso que os problemas fracturantes e de costumes não me incomodam o suficiente para levantar a voz por qualquer das posições. Tenho opinião sobre o aborto, o casamento homossexual, a tourada, a regionalização, a legalização das drogas leves, o celibato dos padres. Mas nenhum dos temas me tira do sério, para manter ou alterar a situação, e reconheço argumentos sólidos nos 2 lados da barricada, na maioria dos casos.
Pegando no tema mais ligeiro, para quem não nasceu na lezíria: não me agrada o espectáculo desigual das touradas (tirando as pegas, quando o animal já está cansado e esvaído...), mas não acho que devam ser proibidas – tenho é a impressão que não duram muito, a sua abolição será apelidada de progresso civilizacional, adivinho.

Já agora, o que me ofende mesmo são coisas mais prosaicas: que um fulano ganhe 10 a 20 mil euros por mês - como o ilustríssimo governador Constâncio ou o reputadíssimo economista José da Silva Lopes – e tenha o topete de afirmar que nós trabalhamos de menos e ganhamos demais para o que fazemos. Não falta contenção salarial, falta vergonha na cara.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Amigo de Alex



Fui convidado para “postar” neste blogue, por uma amiga de longa data. Bem, tive oportunidade de lhe dizer que não criasse expectativas, pois eu já não era o rapaz com (algum) jeito para a escrita que ela conheceu. Disse-lhe que ia a jogo, mas que não esperasse golaços. Agora ando “na vidinha”, como todos, e escrevo muito, mas profissionalmente.
A mamã diz que me devo sempre apresentar. Sou mesmo normal, do termo estatístico “norma”, o mais frequente. Sou funcionário público licenciado, mas acho mesmo que a minha vocação era ser administrador de empresas e gerir o trabalho dos outros. Sou casado, tenho dois filhos, adivinhem, um rapaz e uma rapariga, dois carros, um deles monovolume, vivo numa casa nos subúrbios (atenção, a 500 metros do Porto) paga a meias com o BPI. Para começar, chega. Ah, vivi no Cartaxo há muiiito tempo.
E pronto, vemo-nos por aqui.