quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

7 MIL MILHÕES DE OUTROS


A fundação EDP tem uma exposição sui generis chamada ‘7000 milhões de outros’, respostas sucintas de mais de 6000 pessoas, de 84 países, às mesmas 45 perguntas.
É engraçado como, do Montenegro ao Mali, do México ao Afeganistão, somos todos iguais (prova, a sucessão de gente que, em criança, gostava de ser piloto) e tão diferentes - à pergunta ‘O que é que o chateia?’, respostas à miss universo (ganância, estupidez, injustiça, fome, atirarem o lixo pela janela do carro) são mescladas com outras mais pessoais (a artrose, comer pouco e engordar, ter visto o pai a bater na mãe, ou uma viúva palestiniana a quem censuram sair à rua ou querer usar roupa menos ortodoxa).
Sobre as lembranças mais antigas, aparecem respostas giras: o aldeão maliano que se lembra duma praga de grilos que destruiu as sementeiras, sustento da família, o francês de Nantes, cuja irmã avisava da chegada dos aviões nazis antes das sirenes, ou o canadiano que dizia que o papá não era o senhor que chegara da guerra da coreia, esse tinha o cabelo branco e o papá da fotografia, que beijava todas as noites, não.  
Houve quem dissesse que era feliz porque tinha água, quem apresentasse uma solução genial – tenham menos problemas! -, quem quisesse comer até não poder mais, para nunca mais ter fome, e quem (a minha preferida) afirmasse que, se voltasse atrás, faria tudo igual, só que com outro marido.
Também há testemunhos nacionais: uma senhora, julgo que sobre imigração, disse ‘O nosso país está cheio de toda a gente’, uma frase involuntariamente maiúscula, outro assumiu que era calão, e por isso ria muito, porque rir envolve poucos músculos, e uma cara feia usa muitos mais.
Na secção ‘medos’, ao natural receio da solidão, apareceu uma sequência gira: um peruano disse ter medo que Deus não exista, o seguinte disse que o seu medo era que Deus exista…
Eu sou como o outro que quer uma barrigada, para não ter mais fome - o meu FDS lisboeta chegou para ver outras 2 exposições temporárias imperdíveis: Tesouros dos palácios reais espanhóis, na Gulbenkian (como uma abelhinha, andei a rondar uma guia da casa e o seu bocejante grupo; notas, os habsburgos e os bourbons eram feios com otudo, e o Escorial está cheios de tesouros lusos pilhados pelos filipes) e parte do espólio de Franco Ricci (no MNAA), um colecionador italiano que vai abrir o seu próprio museu em Parma, no próximo ano.
3 gostosas sugestões, digo eu.

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