sexta-feira, 23 de maio de 2014

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Em suma: os partidos comportaram-se como se comportam em toda a parte: um pouco de quermesse, muita demagogia, discursos baralhados. Não faltaram também as promessas solenes a que, através dos séculos e em todos os países, nos têm habituado os políticos. Promessas que mais tarde não necessitam de ser cumpridas, uma vez que, com o passar do tempo, «as circunstâncias mudam». Em Direito Civil «o acto de fazer promessas com a intenção de prejudicar os direitos doutrem» tem o nome de fraude e é punível pela lei. Mas em política, quem promete com a intenção fraudulenta de não cumprir escapa lindamente à sanção, pois a culpa é dos «tempos» que são outros quando deviam ter permanecido os mesmos; ou das circunstâncias, que levianamente «mudam».
É assim que, «involuntariamente», os políticos faltam à palavra que, quando é dada «com solenidade e a mais profunda convicção», deve despertar em cada um de nós o mesmo reflexo com que nos defendemos de um facínora ou de um vigarista.
Rentes de Carvalho, Portugal A Flor e a Foice, 1975

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