segunda-feira, 1 de outubro de 2012

QUEBRA DE CONTRATO

 
 
 

O partido em que votei foi prudente na campanha eleitoral e ousou poucas promessas - proclamou desafios.
Mesmo com essa frugalidade, o partido em que eu votei:
1. Queria uma administração pública motivada e era a favor do mérito - disseram que a porta estava aberta a quem não estivesse bem, elegeram-na como a vanguarda da penalização salarial e agora são eliminadas normas sobre distinção por mérito na FP.
2. Afirmava-se o partido dos contribuintes, crítico da asfixia fiscal de Sócrates, esse xerife de Nottingham - e a emboscada fiscal nunca foi tão galopante.
3. Era a favor do 'visto familiar' em cada proposta legislativa - critério desaparecido em combate no último ano.
4. Estava contra a mudança da TSU - e só decidiu ser desleal com o seu parceiro, publicitando a sua discordância, depois da maior manifestação das últimas décadas.
5. Tinha reservas quanto à privatização das 2 RTP, da REN, da CGD e das águas - a REN já foi, as outras parecem ir a caminho.
6. Era a favor duma autoridade da concorrência que desmantelasse a cartelização do preço dos combustíveis - e os preçários nas auto-estradas continuam a parecer decalques.
7. Considerava a cultura uma prioridade, motor de crescimento e sector gerador de emprego ('sem cultura, o país é uma mero somatório de pessoas e terras' escrevia-se em 2009) - ...
8. Criticava a partidocracia na escolha de dirigentes 'cuja relação com o mérito ou a qualificação é absolutamente remota' - ãhã!
9. Tinha por suficiente 90 dias para cada ministério inventariar institutos, fundações e empresas públicas a extinguir - ao fim de ano e meio, pouco há a mostrar.
10. Era contra a reforma das urgências hospitalares sem oferta de alternativas - e é tirado o helicóptero de Macedo, lá colocado como compensação pelo fim das urgências.
11. Dava a prioridade ao crescimento económico, e 'tal objectivo implicará que a política de finanças públicas não seja um fim em si mesmo, mas um instrumento decisivo ao serviço de uma melhor e mais sustentada economia nacional'.
12. Propunha a agregação de concelhos na mesma câmara municipal - calendas gregas, pois não há córagem, como diz o Jardim, se metem contra os presidentes locais.
12. Achava ser 'preciso ter o elevador social a funcionar' - e o que há para os jovens licenciados são aviões low cost para emigrar.
É sempre mais complicado defender um partido quando ele chega ao poder e tem que pôr a mão na massa. E é óbvio que o partido minoritário não lidera o governo, mas, simplesmente, não se dá pelo seu 'caderno de encargos'.
Não peço contas ao PSD - não votei nele e não fui (des)iludido, mas prometeu o contrário aos seus eleitores (bem, não abandonou as ideias de alterar a constituição, estão a fazer o mesmo por decreto - epá, não é isto uma ditadura?, hum). Mas peço ao CDS, que é suposto ser diferente: se eu quisesse um governo laranja, não precisava votar ao lado.

Há uma linha que separa não cumprir as promessas e fazer o seu oposto.
Em tempos normais, dá-se um desconto a promessas eleitorais. Mas estes são tempos pouco normais, e estamos mais atentos à accountability.

Pela boca morre o peixe:
'As políticas focalizadas, unicamente, no equilíbrio da situação orçamental Portuguesa têm vindo a registar, repetidamente, os mesmos resultados: acréscimo da carga fiscal, rigidez ou aumento da despesa pública, aumento da dívida pública, descontrole do défice público, agravamento dos efeitos dos ciclos económicos e crescimento económico abaixo dos nossos parceiros.
Uma política orçamental que tem como primeiro objectivo o crescimento económico não implica que o CDS abandone a sua preocupação, de sempre, com a disciplina das Finanças Publicas. A saúde orçamental é uma base fundamental para assegurar um desenvolvimento equilibrado e geracionalmente justo. Dar prioridade ao crescimento sobre o défice não é um dilema. É uma ordenação de prioridades. Aliás, só o crescimento gerará receita, e a receita é essencial para a redução progressiva do nosso desequilíbrio orçamental.' 
Programa eleitoral 2009 

'O CDS, que tem uma forte tradição de defesa do contribuinte e de moderação fiscal, que não abandona, sabe que neste momento excepcional que Portugal está a viver, defender o contribuinte também é saber defender que não sejam sempre os mesmos – os que não podem fugir aos impostos – a pagar a factura; e que há formas de aumentar a receita que tornam evitáveis aumentos da carga fiscal.' 
Manifesto eleitoral 2011 

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