terça-feira, 12 de junho de 2012

DO MAL O MENOS



A VIDA É A INFÂNCIA DA NOSSA IMORTALIDADE.
Goethe

Vais escrever sobre isso?, perguntaram horrorizados. Vou.

Exceptuando góticos mórbidos, que gostam de caveiras e donzelas exangues, funerais são um assunto feio para toda a gente (eu, por exemplo, fujo sempre que posso, já tenho que ir ao meu e ainda assim contrariado).
Mas, a ter que ser, ao menos que o local seja bonito: não há como comparar filas de lápides e gavetas de pedra, com os verdejantes e viçosos (!) cemitérios americanos, onde o espaço é agradável, até por isso mesmo: lá, há espaço.

O recente tanatório de Matosinhos, da autoria de Luísa Valente, cumpre na função e na forma: faz-me lembrar o dentista da minha filha, que tem uma televisão colada ao tecto - a ocasião é má, mas o desconforto pode ser distraído. Não resolve nada, mas é acolhedor. 
A luminosa sala tem um pé direito enorme (para recordar a nossa pequenez?) e 3 paredes envidraçadas de cima a baixo, tendo a frontal vista para o mar. Despida de qualquer referência religiosa (apenas duas frases gravadas na parede, uma delas de Goethe), tem cadeiras de pinho claro e música clássica ambiente.

O método é mais abrupto que o convencional, com a saída do esquife sob uma lage elevatória mas, afinal, fica-se com a mesma noção de finitude e irreversibilidade que num enterro. 
Bem, não foi o caso: o ritual foi todo repetido, porque uns amigos atrasaram-se na ligação aérea.

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