segunda-feira, 12 de março de 2012

EXPECTATIVAS

Quirimbas

Antes fazíamos amigos por intermédio dos pais, agora fazemos por intermédio dos filhos. No sábado, veio jantar um duo muito simpático, que conhecíamos de aniversários e festas de infantário.

Falámos da Bimby e do custo de vida. Contaram que venderam a casa com prejuízo e alugaram uma maior, o que faz hoje todo o sentido - nada de IMIs ou condomínios, olá mobilidade – e eu criei um sururu quando disse que, se soubesse o que sei hoje (eu recebia 250€ quando andei na universidade, agora um amigo meu gasta 1000€ com o filho universitário – e os salários não quadruplicaram), não tinha 2 filhos. Tive que sublinhar que obviamente não abdicava deles, agora que já os conheço, mas que tomamos decisões conforme as expectativas que temos, e depois os pressupostos mudam.
Citando o premier, essa foi a parte ‘piegas’ da parla.

Mas o tópico de grande parte da conversa foi o nosso realizado conviva.
Não é todos os dias que temos à mesa uma pessoa com um emprego tão bom como o de um colega meu que (soube há dias) trata golfinhos no Dubai: episodicamente desempregado, e com o curso de mergulho, foi convidado para rumar a Pemba, no norte de Moçambique, e montar as actividades aquáticas dum hotel, perto das oníricas ilhas Quirimbas. Depois passou a responsável por safaris fotográficos e de caça grossa.
Falou da criação de leões da Rodézia (são cães), das baleias que vê por vezes da janela do quarto, dos recifes de corais e dos mergulhos até 40m, das caras pintadas de branco das macuas, das picadas e das queimadas, dos chuveiros em paliçadas, dos seus encontros imediatos com leões (ambos do lado de fora do jipe), da caça de palancas e búfalos, dos trilhos feitos à catanada, dos dias seguidos na pista dum animal mais batido, de quando a presa se torna predador, do desconforto quando assistiu ao abate dum elefante – qual tourada, os prémios são orelhas, rabos, dentes e a pele da barriga, mais fácil de curtir.

Bela com senão, a pequena corrupção e as avenças quase regulamentares com a polícia – diz o ditado que a África vence sempre, só há que adaptar -, a internet intermitente (por vezes vai o mail e ficam os anexos) e a distância da família – o miúdo mais novo achava estranho como, sempre que telefonava ao pai, a mãe ficava tão ‘suada’…

Por falar em expectativas, quando a minha garota disse que o pai da amiga era caçador na savana, eu imaginei o Robert Redford de África Minha, ou um espadaúdo Indiana Jones com camisa caqui, uns calções Camel cheios de bolsos e um chapéu de aba larga. Não.
Tem cabelo grisalho (mas vá, também o tinha Clark Gable em Mogambo), é baixinho, com barriguinha saliente, óculos de massa e lentes grossas.
E chama-se Carlinhos.

p.s.: graças a Deus não me perguntou 'e você, o que faz?', só podia responder-lhe 'ora, nada de especial'.

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