sábado, 21 de janeiro de 2012

SEM MAIS ALIBIS


Fomos além da troika, diz orgulhoso Passos Coelho. Tratando o país como uma empresa, o premier resolveu que o problema do país são os salários - dos mais baixos da Europa -, excessivos para o que produzimos.
Primeiro foi a promessa de redução da taxa social única (o empregador pagava ao Estado menos por cada empregado, sendo a receita compensada por todos, no IVA), depois substituída pela intenção de aumentar o trabalho diário em meia-hora - pro bono, i.e., sem compensação.
Sob ameaça duma legislação mais radical, houve um acordo entre patrões e trabalhadores. É suposto um acordo representar uma aproximação entre 2 partes, em que ambas cedem. Não parece ser o caso, o que houve foi um acordo entre sitiante e sitiado, em que o último tenta conter os danos e reduzir o tamanho do tributo a pagar.
Com cortes nas férias e feriados, vai-se trabalhar mais dias pelo mesmo salário (ou menos, no caso dos fp), o horário é mais flexível, os sábados e as horas extras ficam mais baratos, os motivos de despedimento são alargados e as respectivas indemnizações diminuídas, o subsídio de desemprego é encurtado, não vão as pessoas ficar mal habituadas. Em suma, a flexisegurança ficou pela metade (ouço a voz do Malato, "Você é o elo mais fraco, Adeus.").

Seja. A ver vamos se aumenta a produtividade.
Mas acabaram os alibis. Não venha mais a conversa de que a culpa da falta de competitividade é o custo do trabalho. Será da Justiça-tartaruga que impede a resolução de dívidas a credores, funcionários e ao Estado, dos empresários-acordeão que abrem e fecham firmas (por vezes com mudanças cirúrgicas das denominação social, os foliões!), da falta de iniciativa privada, dum patronato anémico que se cola ao Estado e que não vê para lá de hoje, da falta de equidade fiscal e da economia paralela, de outros custos de produção - como a energia e os transportes (incluindo portagens...), onde o governo não mexe.
Outro pormenor, a nova legislação laboral é como o sol, para todos: para os que exportam e competem como para os restantes; para os que investem e criam emprego e os que 'aforram' para a piscina; para a indústria e a agropecuária que produzem bens transaccionáveis, como para os serviços - e não é sector terciário que 1) precisa de robustez e 2) pesa na balança comercial.

1 comentário:

  1. O presidente da CEP, António Saraiva, disse em entrevista ao Público que o acordo da concertação social (devia ser consertação, digo eu) 'vale por um tempo'.
    Sem comentários.

    ResponderEliminar