domingo, 6 de novembro de 2011

GALERIA DE RETRATOS DOS PRESIDENTES

Pode a galeria dos retratos dos (18) presidentes, em Belém, ser história de arte? Mostrando os altos e baixos, pode.
Tudo começa com a austeridade cromática de Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929), que pintou 3 amigos e correlegionários, Arriaga, Teófilo e Teixeira Gomes. Ao pintor faltou convencer o outro pai da república, Bernardino Machado, a posar para si*.
Isso só aconteceu na década de 30, decidida a criação duma galeria de retratos: Bernardino foi retratado por Martinho da Fonseca (1890-1972), discípulo de Columbano, e Henrique Medina (1901-88) ficou encarregue de pintar os restantes presidentes da 1ª república - Sidónio, Canto e Castro e António José de Almeida -, Óscar Carmona e Américo Thomaz (que viria a ser presidente mais de 20 anos depois). Pormenor, Medina fez carreira internacional e retratrou, entre outros, Mussolini, Chaplin e, já octagenário, João Paulo II.
A Eduardo Malta (1900-67), que eternizou Salazar, Ricardo Espírito Santo Silva e Amália, coube pintar Craveiro Lopes.
Foi uma série de quadros austeros e menores (no implacável site de museu da presidência, chamam-lhes medíocres), até aos presidentes eleitos da 3ª república. Eanes escolheu (o consagrado retratista emigrado em Madrid) Luís Pinto Coelho, Soares elegeu Júlio Pomar e Sampaio optou pela 1ª mulher,  Paula Rego, depois de contratá-la para pintar o Ciclo de Vida de Virgem Maria para a capela do palácio.
A escolha é a imagem das suas presidências: Eanes formal e adequado, comme il faut; Soares irreverente (e o único que ri); Sampaio culto (a fasquia está alta para Cavaco, mas não custa adivinhar que género escolherá...).
Se o quadro de Pomar rasga a norma, também o quadro de Teófilo Braga foge às regras convencionais: nada de pose institucional, nada de cadeira presidencial (a das cabeças de leão aparece em 4 das obras), apenas um intelectual - descentrado - e os seus livros.
Desde o tradicionalismo poético de Columbano e do modernismo académico de Medina e de Malta, passando pelo realismo de Pinto Coelho, até ao exuberante Pomar e a uma figurativa Paula Rego - todos consagrados nas suas épocas -, fez-se história.
Pormenor, a esmagadora maioria dos quadros foi pintada após a presidência, ou mesmo morte (Sidónio e António José de Almeida) dos presidentes. E Eanes é o único dos 10 militares a não posar fardado - uma boa mensagem, a 'desmilitarização' da presidência, ao fim de 50 anos certos.

* É conhecida uma curiosíssima carta de Aquilino Ribeiro, em 1934, informando o sogro das intenções de retratá-lo, da qualidade de Medina (agrada a quem não está iniciado na arte) e do incómodo resultado, ficar na galeria ao lado de Carmona. E da ciática de Salazar (http://manuel-bernardinomachado.blogspot.com/2009/03/o-quadro-de-bernardino-machado-da.html).

 Manuel da Arriaga (1911-15) por Columbano, 1914
 Teófilo Braga (1915) por Columbano, 1917
 Bernardino Machado (1915-17 e 25-26) por Martinho da Fonseca, 1935
 Sidónio Pais (1918-19) por Henrique Medina, 1937
 João Canto e Castro (1918-19) por Henrique Medina, 1933
 António José de Almeida (1919-23) por Henrique Medina, 1932?
 Manuel Teixeira Gomes (1923-25) por Columbano, 1925
 José Mendes Cabeçadas (1926)
Manuel Gomes da Costa (1926)
Óscar Carmona (1926-51) por Henrique Medina, 1933
 Francisco Craveiro Lopes (1951-1956) por Eduardo Malta
Américo Thomaz (1958-74) por Henrique Medina, 1937
 António de Spínola (1974) por Francisco Lapa 
 Francisco Costa Gomes (1974-76) por Joaquim Rebocho
 António Ramalho Eanes (1976-86) por Luís Pinto Coelho, 1991
 Mário Soares (1986-96) por Júlio Pomar
 Jorge Sampaio (1996-2006) por Paula Rego
Aníbal Cavaco Silva (2006-) fotografia oficial

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