"Para certos republicanos a República tem sido um pé de cabra com que vêem aumentando os seus haveres." Senador João de Freitas, histórico republicano, in Boletim parlamentar do Senado, 11-06-1913
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segunda-feira, 3 de outubro de 2011
'O PRÍNCIPE' POR MAZZARINO
O diálogo (ou fábula?) seguinte é atríbuido a Colbert, ministro de Estado do rei Luís XIV, e ao cardeal italiano Giulio Mazzarino, que sucedeu a Richelieu no reinado de Luís XIII e serviu como primeiro-ministro durante a regência da viúva Ana de Áustria e o reinado de Luís XIV, entre 1642 e 1661.
Data da suposta lição sobre boa governança, 1661 da graça do Senhor, o ano da saída de um e da entrada do outro ao serviço do rei-sol.
Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar (o contribuinte) já não é possível.
Eu gostaria que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...
Mazzarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!
Colbert: Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criamos todos os impostos imagináveis?
Mazzarino: Criam-se outros.
Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazzarino: Sim, é impossível.
Colbert: E então os ricos?
Mazzarino: Sobre os ricos também não. Eles deixariam de gastar. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert: Então como havemos de fazer?
Mazzarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente situada entre os ricos e os pobres: são os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório inesgotável.
Cusquices
A mania de Mazzarino de aumentar impostos originou várias revoltas (ganhando a mais conhecida o nome de Fronde), razão pelo que o rei lhe concedeu uma súbita 'licença sabática' de 2 anos fora do país, tal a forma como enfureceu o povo e a nobreza. Mas preocupava-se com o bem-estar das pessoas: casou 7 sobrinhas com nobres franceses e italianos - 2 princesas, 4 duquesas e 1 condessa, alcunhadas de mazarinettes.
A ascensão de Colbert começou com a queda de Fouquet, o ministro das finanças preso por... D'Artagnan. Luís XIV foi visitar o enorme (demoliram-se 3 aldeias) e faustoso palais de Fouquet e roeu-se de inveja - punha qualquer dos seus palácios a um canto. Colbert terá sussurrado que tal fortuna (18 milhões de francos) só poderia vir do erário régio e pronto: Fouquet de cana, o arquitecto, o jardineiro e as laranjeiras foram levadas para o que viria a ser, nada mais nada menos, Versailles.
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