sexta-feira, 7 de outubro de 2011

ERA UMA VEZ, NUM REINO MUITO DISTANTE...



Dizem que a preocupação é quase patológica no primeiro filho e vai diminuindo com os seguintes. As minhas irmãs nasceram numa clínica privada em Luanda (12 contos e meio, ainda existem os recibos) e o terceiro – eu – nasceu no hospital local da terrinha, o Lobito.
Mas enfim, sempre me contaram que tive a sorte de nascer num cenário de fábula, cercado de flamingos branco-rosados, no meio de mangais, e que uma fada (o médico) previu que estava fadado para general (como se vê…e nem os meus miúdos ponho em sentido).
Quando fiz 40, calhou saber a verdade toda.
O hospital estava erguido no meio dum pântano (há quem lhe chame lagoas), com flamingos, sim, mas infestado de mosquitos, fora e dentro dos quartos, como uma praga bíblica. A tal fada não ligava muito ao facto, porque os insectos também tinham o direito a existir. O hospital era sui generis, à noite havia mosquitos mas nenhuma enfermeira, e era polivalente: o meu pai chegou a operar lá um cão, coadjuvado pelo cirurgião (de graça Acácio Coelho) e por pela renitente anestesista.
Nada poético. Vai-se a ver, quando chegar aos 50, ainda revelam que me tiraram da Roda:)

Outros tempos: quando acusei vontade de sair, os meus pais telefonaram aos meus avós para virem de Benguela, deixaram a porta da rua aberta e avisaram o guarda-nocturno que as minhas irmãs estavam a dormir.

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