"Para certos republicanos a República tem sido um pé de cabra com que vêem aumentando os seus haveres." Senador João de Freitas, histórico republicano, in Boletim parlamentar do Senado, 11-06-1913
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terça-feira, 2 de agosto de 2011
UMA VIDA BOA
Maria José Nogueira Pinto escreveu, na sua última crónica, que "uma boa vida não é uma vida boa".
Alguém (um brasileiro chamado Nemo Nox, mas quem ficou com a fama foi Fernando Pessoa) acabou um poema com "Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo".
Eu cá não concordo, prescindia bem das pedradas: como o ferro, vamos sendo temperados e mais resilientes como o aço, mas passava bem sem esse "tempêro".
Bem diz o MEC, "as decisões fúteis, quando a cabeça é desocupada daquilo que a preocupa, para se ocupar de uma ninharia como escolher entre a pera-pérola e a carapinheira, são um indício seguro da felicidade".
É, feliz daquele cujos problemas sejam a escolha entre um Callabriga Reserva 2005 ou um Quinta do Crasto VMT 2007, e grande provação seja experimentar um Château Mouton-Rothscchild 1982.
Certo, certo é que os escolhos nos mostram a fisiopatologia da natureza humana: a ambição, a solidariedade, a lisonja, a generosidade e o egoísmo, a cobardia ou a resistência, a delação, a maldade, a prepotência, a inveja, o conformismo, o alheamento face à injustiça, a amizade.*
Apesar de nos considerarmos evoluídos e civilizados, nada mais natural e primitivo. E começa e acaba tudo na mesma coisa, a procura de segurança e o instinto de sobrevivência, que assegurou a manutenção e a prosperidade da espécie.
São tudo estratégias - ora de união, ora de competição -, para sobreviver e garantir a segurança do grupo contra os predadores, a gruta, uma pele mais quente, a parceira com o maior quadril (e o status confere o poder de escolha), o lombo do dente-de-sabre, a proximidade do (ou o próprio) comando da tribo, a cercania da fogueira. Subam 2 parágrafos p.f. e confirmam em cada 'característica' uma destas preocupações 'antigas'.
Há até uma expressão popular, usada nas progressões profissionais, com muita serventia, "quem está mais perto da fogueira, aquece-se melhor". Milénios de distância, os mesmos fins.
* Hannah Arendt (autora de A Condição Humana, As Origens do Totalitarismo, Eichmann em Jerusalém,...) dissecou bem algumas destas 'características' sociais, crismando a expressão "banalização do mal" e explicando como homens horrivelmente normais cumprem ordens dum malvado paranóico.
Quanto à passividade dos restantes, bem falou Eduardo Alves da Costa.
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