"Para certos republicanos a República tem sido um pé de cabra com que vêem aumentando os seus haveres." Senador João de Freitas, histórico republicano, in Boletim parlamentar do Senado, 11-06-1913
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sexta-feira, 18 de março de 2011
PÔR A CABEÇA NO CEPO
Tá bem, Luís XVI era trineto do Rei-Sol e estava mal habituado. Vivera uma vida de fausto (o cunhado austríaco bem avisara a irmã Maria Antonieta que, ou diminuíam a pompa e sumptuosidade, ou havia uma "revolução terrível") e todos eram seus súbditos, honrados em lhe colocar a peruca ou mudar o penico.
Mas devia ter aprendido que esses tempos já lá iam. Tinha havido mesmo uma revolução, e os danados dos insurrectos tinham o desaforo de já não lhe fazerem a vénia e, vejam, de interrompê-lo ou mesmo desobedecer-lhe. A ele, que tinha sido tão bom para o povo: abolira a tortura, concedera direitos aos protestantes, ajudara os americanos na guerra da independência e convocara os Estados Gerais, o que não acontecia há 200 anos. Dera-lhes demasiada confiança, foi o que foi.
Pois bem, as coisas foram de mal a pior e arranjou-se um plano para Luís fugir de Paris, rumo à leal fortaleza de Montmédy. Data: 20.6.1791.
A família real saiu do palácio das Tulherias por passagens secretas e apanhou uma carruagem alugada de transporte de passageiros até às muralhas da cidade. Até aí, tudo bem.
Mas então começou a desgraça: o real agregado apanhou uma volumosa berline puxada por 6 cavalos - Luís recusara um transporte mais leve e rápido, para não viajar separado de Maria Antonieta e dos 2 filhos. É!, uma carruagem enorme, com o peso da família, mais acompanhantes (fazem falta para a canasta, ou lá o que jogavam), mais criados noutra carruagem, mais guarda-costas e mais bagagem - sim, que um rei não leva só a roupa do corpo.
Pois o atraso de horas na partida, devido a hesitações e confusões (ninguém se arranja do pé para a mão) não foi recuperado pela lenta carruagem. O comandante da primeira muda de cavaleiros assumiu que a fuga tinha sido novamente adiada e avisou as outras mudas. Resultado, ninguém à espera.
No dia seguinte, escoltada por uns meros 2 cavaleiros, a berline atravessou Champagne. Adivinhe-se, Luís mandou parar duas vezes para descansar e ainda se dirigiu aos transeuntes, como se nada fosse.
Ó surpresa, aquela família "humilde" foi reconhecida pelo chefe dum posto de equipagens, que correu para alertar as autoridades em Varennes. Aí a foragida família foi recambiada para Paris (a mania de vetar os decretos da Assembleia fê-lo perder a cabeça 18 meses mais tarde - literalmente).
Mas afinal, o que é que correu mal???
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