quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

PARABÉNS COMPADRE

Como quem bebe a sabedoria paterna, há 2 ou 3 “ensinamentos” que nunca mais esqueci. Um deles é o “nada se cria, tudo se transforma” com que o meu pai abria um monólogo, sempre que lhe pedia uma explicação rápida sobre uma dúvida em matemática ou físico-química.
Outra, da sua lavra, era “Amigos são a família e os da infância”. Não é que concorde, pois vamos ganhando novos Amigos ao longo dos anos, mas percebo: a família, disse alguém, é “um grupo peculiar de amigos à força” (até que uma partilha os separe), e os amigos de infância são diferentes.
Em primeiro lugar, a relação tem fundações: foram milhares de horas de partilha de histórias divertidas, pães, copos, copos, copos, tardes, noites, directas, férias, segredos importantes ou sem interesse – e de piolhos, pois juntávamos as cabeças para vermos os cromos. É, agora o contacto físico restringe-se a apertos de mão.
Talvez por isso, essas amizades resistem de outra forma à separação e aos desencontros, são mais estruturais que conjunturais. Ninguém esquece o primeiro amigo, pois não?
Porquê aqueles e não outros? Porque pertencemos ao mesmo grupo, porque havia empatia e interesses comuns. Uma espécie de irmãos, capazes de nos irritar, como da maior generosidade. Prova nº 1, o Pedro, 38 anos feitos hoje: o mesmo rapaz que me enervava quando, a ganhar ao “Risco”, estalava propositada e repetidamente as nozes dos dedos, ou quando me chagava a dar caroladas numa viagem de horas, ou quando agitava as mãos em frente das nossas caras, dizendo “o ar é de todos”, era generoso – certa noite, ao chegar ao parque de campismo, eu não tinha passe; é certo que a cerveja potenciou o altruísmo, mas insistiu em dar-me a sua senha e saltar ele pelo arame farpado. O resultado apareceu com a ressaca, uma séria de rasgões nas mãos e nos braços.

Como concordamos em quase nada, eis uma bela música para celebrar:
 

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