"Para certos republicanos a República tem sido um pé de cabra com que vêem aumentando os seus haveres." Senador João de Freitas, histórico republicano, in Boletim parlamentar do Senado, 11-06-1913
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terça-feira, 21 de setembro de 2010
FALTA-ME QUALQUER COISA
Talvez tenha deixado de fumar hoje.
Eu e a Susana fomos a uma clínica numa vivenda incógnita no Porto. Como o tratamento passa por hipnose, ela ‘tava com medo de dizer baboseiras na consulta. Como íamos os 2 parar no mesmo dia, eu receava que o stress a dobrar acabasse numa “Guerra das Rosas”, lembram-se do filme?
É suposto uma hipnose ligeira (grau 3 em 10, ouvimos e lembramos tudo) conseguir que os cigarros nos saibam mal e substituir a vontade de fumar por beber água – a ser verdade, vou rebentar, água já eu bebo aos litros.
Não sei se estive semi-hipnotizado. Abri os olhos antes do tempo, sem deixar o psicólogo completar a frase “vai abrir os olhos..... quando disser 3”, mas voltei a fechá-los sem que o senhor desse por nada, e fui muito obediente até ao fim. O nome também não ajudou, o Doc ia-me tratando por Dr-António-Luís e não há uma alminha que me trate assim, como é que o Id vai ligar?
Estávamos autorizados a divagar sobre o que nos desse na gama enquanto o Inconsciente – ou O Encoberto, como D. Sebastião – assimilaria as suas vagarosas palavras. Mas eu não deixei a mente correr, ouvi com fervorosa atenção tudo o que o Doutor disse, fazendo figas que conseguisse “dobrar” o Id, porque o consciente não estava convencido dos resultados duma terapia em que se ouve, sussurra e pausadamente, “não vais vencer porque tu és apenas um rolinho de erva embrulhado em papel, é o que tu és".
Depois, mea culpa, falar em alcatrão a depositar-se no fígado não impressiona quem examina diariamente entranhas a animais, qual oráculo romano, e visualizar a imagem do “fumo espesso” do cigarro até é uma imagem atractiva.
Esta é a minha terceira – e última, qualquer que seja o desfecho – tentativa para deixar de fumar. À primeira, na Nãofumomais, comprei 3 frasquinhos de gotas e choques eléctricos nas orelhas (que melhor exemplo para os meus gaiatos, sobre o malefício do tabaco, pagar para ser electrocutado!!!) por 300€. 10 meses livre – atípicamente, pouco engordei, não senti mais energia e fôlego, nem melhorei o paladar ou o faro –, capital amortizado. E num fatídico sábado de manhã, praia de Varzim, Expresso, café... e 1 cigarro. Era só 1, claro.
A segunda, com comprimidos Champix, estava a correr bem até ter uma avaria muito improvável na minha vida, que mui me irritou, e a caixa ficou a meio. Todas as pessoas que conheço deixaram de fumar com esse tratamento, à excepção da minha mãe – “a vontade de fumar não passou”, não contava que tivesse que fazer por isso.
P.S.: À hora em que escrevo, não estou com a boca pastosa, sonolento, mais paciente ou sem preocupações (tábemtá!), nem tenho sede, como prometeu o Freud da Rua da Constituição. Mas não fumo enquanto me lembrar que paguei. E beyond, espero.
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