"Para certos republicanos a República tem sido um pé de cabra com que vêem aumentando os seus haveres." Senador João de Freitas, histórico republicano, in Boletim parlamentar do Senado, 11-06-1913
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segunda-feira, 21 de junho de 2010
OS GOLOS SÃO COMO O KETCHUP...
...quando aparecem, vêm todos juntos, disse o Ronaldo sobre o jejum de golos da selecção. Parece verdade. E cada um melhor que o outro. Espero que não seque o poço.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
CASA ONDE NÃO HÁ PÃO, TODOS RALHAM...
E TODOS TÊM RAZÃO.
O governo decidiu aplicar novas regras nas pensões sociais (leia-se cortes), numa tentativa de "racionalização da atribuição de prestações sociais e da criação de condições para que estas sejam socialmente mais justas e equitativas" (como diz o DL 78/2010 de hoje, sobre o subsídio de desemprego), com o que conta poupar 150M€ por ano.
Primeira questão: se lá está há 5 anos, e basta fazer a conta, significa que gastou 750M€ onde não devia?
Como alertou o presidente, a austeridade traz o risco de fractura social. Isso significa a hostilidade entre quem trabalha ou desconta e quem recebe.
O forum da TSF é um óptimo observatório social: no meio de muita barbaridade e ignorância, aparece o pulsar do país. E quando o tema são subsídios, há algazarra.
Numa altura em que os bolsos estão cada vez mais leves, o povo indigna-se com situações - que todos conhecem - de gente que prefere estar no desemprego (por vezes falso) ou receber o RSI (mais habitação social, livros escolares, abonos, alimentação, isenções na farmácia ou no hospital, ...) a procurar emprego, e que acham que trabalhar numa vinha... dá trabalho. Gente essa com carro, plasma e playstation.
Num desses programas, um enfermeiro com duplo emprego dizia que visitara uma pessoa com SRI que tinha TVcabo, e perguntava se o erário público servia para ajudar quem precisa ou para pagar "extras".
Conheço uma dessas pessoas que se indignam, funcionário camarário que apanha lixo das 9 da noite às 3 da manhã e trabalha das 6 às 13 numa fábrica, tudo por uns 700€. Vou chamar-lhe reaccionário, porque acha mal o vizinho com 4 filhos ganhar o mesmo, ficando em casa (oferecida)?
Mas há o outro lado. Alfredo Bruto da Costa (presidente da Comissão nacional Justiça e Paz, ex-ministro dos assuntos Sociais de Pintassilgo em 79) pôs o dedo na ferida:
"É inexplicável que a área que visa beneficiar os mais pobres também seja atingida com as medidas de austeridade. Fico muito inquieto quando vejo pessoas mais preocupadas com as fraudes dos pobres do que com a pobreza."
O governo decidiu aplicar novas regras nas pensões sociais (leia-se cortes), numa tentativa de "racionalização da atribuição de prestações sociais e da criação de condições para que estas sejam socialmente mais justas e equitativas" (como diz o DL 78/2010 de hoje, sobre o subsídio de desemprego), com o que conta poupar 150M€ por ano.
Primeira questão: se lá está há 5 anos, e basta fazer a conta, significa que gastou 750M€ onde não devia?
Como alertou o presidente, a austeridade traz o risco de fractura social. Isso significa a hostilidade entre quem trabalha ou desconta e quem recebe.
O forum da TSF é um óptimo observatório social: no meio de muita barbaridade e ignorância, aparece o pulsar do país. E quando o tema são subsídios, há algazarra.
Numa altura em que os bolsos estão cada vez mais leves, o povo indigna-se com situações - que todos conhecem - de gente que prefere estar no desemprego (por vezes falso) ou receber o RSI (mais habitação social, livros escolares, abonos, alimentação, isenções na farmácia ou no hospital, ...) a procurar emprego, e que acham que trabalhar numa vinha... dá trabalho. Gente essa com carro, plasma e playstation.
Num desses programas, um enfermeiro com duplo emprego dizia que visitara uma pessoa com SRI que tinha TVcabo, e perguntava se o erário público servia para ajudar quem precisa ou para pagar "extras".
Conheço uma dessas pessoas que se indignam, funcionário camarário que apanha lixo das 9 da noite às 3 da manhã e trabalha das 6 às 13 numa fábrica, tudo por uns 700€. Vou chamar-lhe reaccionário, porque acha mal o vizinho com 4 filhos ganhar o mesmo, ficando em casa (oferecida)?
Mas há o outro lado. Alfredo Bruto da Costa (presidente da Comissão nacional Justiça e Paz, ex-ministro dos assuntos Sociais de Pintassilgo em 79) pôs o dedo na ferida:
"É inexplicável que a área que visa beneficiar os mais pobres também seja atingida com as medidas de austeridade. Fico muito inquieto quando vejo pessoas mais preocupadas com as fraudes dos pobres do que com a pobreza."
(FALTA DE) NOTÍCIAS EM DIRECTO
A competição das televisões e das rádios pelas notícias obriga-as a directos intermináveis, onde verdadeiramente "se enche o chouriço", i.e., esmiuça-se o irrelevante.
É assim nas cerimónias, em que os locutores dissertam sobre a ementa, os vestidos e a meteorologia, ou entrevistam "os populares" que fazem cordões humanos para bisbilhotar a malta conhecida do ecrã.
Mas, na falta de notícias, também se ocupa a antena com os preparativos.
Há semanas foi o Papa. Dias antes do Santo Padre chegar, já não o podia ver. Era a entrevista ao designer do logótipo, às senhoras que coziam as batinas dos párocos, ao comissário da visita sobre o percurso do papamóvel. Eram os sapatos vermelhos do papa (que, afinal, não são Prada), era o estóico quarto onde o senhor iria pernoitar, era o diabo que o carregue.
E foi o acompanhamento ao minuto dos 4 dias de visita. A tarefa é mais difícil na rádio, não há imagens para distrair. Ouvi na TSF, por mero acaso, a chegada do avião a Lisboa: "O Santo Padre agarra o corrimão para descer a escada... afinal, vai descer sem apoio..." Isto é notícia???
E pronto, agora é o Mundial. Quatro motas (1 delas com atrelado para o câmara) e 2 helicópteros seguiram a camioneta dos jogadores - com vidros fumados, diga-se - até ao aeroporto. Com direito a paragem na bomba da Galp e na festa do Modelo, que isto dos patrocínios tem obrigações.
E assim passaram duas horas de directos em todas as rádios e televisões.
Mas alguém quer saber se o Nani gosta de bacalhau, ou a que horas os jogadores jogam playstation?
SARAMAGO MEETS GOD
Se Deus existe, Saramago ficou hoje a saber.
Acho aliás que estão agora a ter uma conversinha de pé-de-orelha (a história da bíblia ser um manual de maus costumes ou o homem ter inventado um Deus cruel, invejoso e insuportável virá à baila, pela certa).
O primeiro livro que li de Saramago foi O memorial do convento, há 20 e tal anos. Li depois mais uns 10, os últimos a viagem de elefante e Caim. Claramente uns melhores que outros, mas o conjunto da obra é soberbo nas suas alegorias. O segredo é ler a correr, como se ouvíssemos o narrador.
Tem 2 anos (Tabu, 19/04/2008) uma das suas impressões sobre o rectângulo:
"O que falta em Portugal é sentido crítico. Estamos muito aborregados. Nem somos capazes de balir. Mééé!"
segunda-feira, 14 de junho de 2010
RON MUECK
O artista é genro de Paula Rego. Já imaginaram os presentes que se distribuem naquela família, pelo Natal?
sábado, 12 de junho de 2010
D. HENRIQUE, O PIRATA ESCLAVAGISTA E FRATRICIDA
O programa do MST usa o título dum livro (sinais de fogo) e uma frase do Jorge de Sena que eu subscrevo, uma história depende essencialmente do modo como é contada.
Volto ao tema neste blog, agora a propósito de D. Henrique, Duque de Viseu, Mestre de Cristo e irmão de D. Duarte.
Foi pela pena dum dos seus entusiastas, o cronista Gomes Eanes de Zurara, que se criou a lenda dum humanista, um pio, um asceta, um visionário. Tudo bem, também foi isso.
Mas foi mais. Foi ele um dos responsáveis pelo desastre do ataque a Tanger em 1437. O irmão Fernando ofereceu-se para ficar em seu lugar como refém dos mouros, a ser libertado após Portugal sair de Ceuta.
D. Duarte reuniu as Cortes de Leiria em 1468, para discutir o resgate do irmão e a entrega daquela praça, numa sessão renhida e infrutífera.
Imaginem quem faltou, não defendendo o destino do irmão que generosamente ocupara o seu lugar no catre... Henrique.
É sabido, Fernando (o Infante Santo) morreu em Fez em 1443, ao fim de 6 anos a ver o sol aos quadradinhos.
Há mais. D. Henrique tinha uma activa frota de navios de corso e iniciou o tráfico de escravos africanos, particularmente para a produção de açúcar no SEU (oferecido pela coroa) arquipélago da Madeira.
E ainda conseguiu, do irmão regente Pedro e do Papa, o monopólio do comércio e do corso além do cabo Bojador: direitos de povoamento das ilhas, direitos sobre todas as viagens e um quinto dos géneros (incluindo escravos).
Tudo embrulhado em boas intenções, como a procura de novos mundos, a evangelização dos povos e luta contra os infiéis.