sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A PACIÊNCIA DO POVO É A MANJEDOURA DOS TIRANOS


Conheci José Adelino Maltez, intitulado politólogo, quando se tornou há meses comentador da SICN.
As suas dissertações costumam ser elaboradas, ancoradas em citações (hoje foi Sophia com “vemos, ouvimos, lemos, não podemos ignorar”, Montesquieu e Drummond de Andrade) e absolutamente cáusticas com os políticos e a sociedade portuguesa.
O tema de hoje era Sócrates e o seu esquema de controlo da comunicação social, narrada no Sol.
Maltez tirou da cartola expressões como o “colectivismo de seitas” e a “banalização do mal”.
Esta é uma característica tuga: a normalização do grande e do pequeno “mal” - da corrupção, da fraude, da mentira, da cunha, do esquema - sem qualquer resistência do povo, apenas a sua aceitação passiva:
Sócrates mentiu?, nada que espante. São todos iguais, e na próxima ganha de novo.
Abuso dos dinheiros públicos?, só não faz quem não pode.

A mesma passividade, e o temor (e subserviência) do poder instalado, qualquer que seja, explica uma ditadura tão longa, que só acabou porque uns coronéis acharam que estavam a ser ultrapassados na carreira – tivessem-lhes pago, e Caetano ficaria mais um tempinho.
Posso estar a dizer uma barbaridade, pois não tenho conhecimentos suficientes de história, mas parece-me que a última revolução que vingou, meia-encabeçada pelo povo, foi em 1385. Todas as outras (r)evoluções foram lideradas pela nobreza, tropa ou elites políticas (tirando a revolta da Maria da Fonte). Nada de revoluções à americana, francesa, russa, pós-comunistas, em que o povo fez a mudança.
Somos um povo “ao serviço de Vossa Senhoria”.


Já agora, mais um bocadinho de Raphael Bordallo Pinheiro
A Política: a grande porca O dia de votos
O Maquinismo Governativo

3 comentários:

  1. Adorei esta crónica.
    Sabes que temos no Cartaxo um grande Artista (ai! que ele não gosta que lhe chamem Artista!)...que tem estado a trabalhar em homenagem a Raphael Bordallo Pinheiro, reportado para a actualidade?

    É o Professor João Honório.

    É excelente! E sem lhe pagar um tostão, vou fazendo dele, o meu Mestre.

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  2. Obrigado pelo registo. Já agora, banalização do mal é de Hannah Arendt, sobre o processo de Eichmann, onde nos ensinou que quem tinha culpa não eram eles, os SS, mas todos os que deixaram que os SS vingassem. Subscrevo os ventres ao sol. Acrescentava a Patuleia, não se tivesse mantido Cabral, graças à brigada invasora de Concha, às manobras diplomáticas de Guizot e à esquadra britânica na Foz do Douro. E não deixaria de incluir Salgueiro Maia. O problema, nestes casos, foi o "day after". Bordalo sempre. Com adeuado manguito.

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  3. JAM, comentário esclarecedor.
    A patuleia, a seguir à Maria da Fonte, é mais um golpe que mete tropa e políticos (e Salgueiro Maia era militar), não conta.
    Falo do sec. XIX com pinças, pois foi muito turbulento e cheio d ejargões: abrilada, setembrismo, cabralismo, patuleia, cartistas e abolutistas.
    Sem falar na sucessão de presidentes do conselho, Loulé, Saldanha, Fontes P. Melo. Uma confusão.

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