Estudei junto ao Camões e ia para casa no eléctrico 19 ou no 58. Eram uns belos percursos, em particular com sol.
Vivia na casa da "Marechala", uma tia-avó sessentinha e solteirona, autoritária e com rituais militares: 3ª peixaria, 4º banco, 5ª talho, domingo almoço com amiga-inseparável-há-65-anos (um contraste, inglesa loura-olhos-azuis, magrinha, sorridente e calada); certa vez, descobriu que eu passara por casa, porque a porta da WC estava aberta mais 10 cm. Friorenta, fazia headphones e tapa-narizes de lã...
Era na Rua da Arriaga, na raia da Lapa mas impecável, antiga o suficiente para um filme do Vasco Santana, e com uns bons close ups usava-se até num take d’Os Maias.
Comprida, larga e luminosa (luz que só Lisboa tem), muito limpa, empedrada, pouco trânsito, Embaixada do Iraque, casa do Embaixador de Inglaterra, “palecetezinhos” arborizados de gente desconhecida, daquela que diz “o dinheiro corre na família há muitas gerações”, prédios novos à antiga, para bolseiros (não os necessitados, os da Bolsa de valores).
O meu prédio era o mais modesto da rua. Ainda assim era muito apresentável, tectos altos, muitas divisões, com vista para o Tejo sobre-telhados (vá, duma janela!). Com as voltas da vida, vieram-me parar às mãos papéis bem giros do meu bisavô, incluindo o documento do aluguer da casa, de 1935.
Lisboa é muito bonita, carago.
Vivia na casa da "Marechala", uma tia-avó sessentinha e solteirona, autoritária e com rituais militares: 3ª peixaria, 4º banco, 5ª talho, domingo almoço com amiga-inseparável-há-65-anos (um contraste, inglesa loura-olhos-azuis, magrinha, sorridente e calada); certa vez, descobriu que eu passara por casa, porque a porta da WC estava aberta mais 10 cm. Friorenta, fazia headphones e tapa-narizes de lã...
Era na Rua da Arriaga, na raia da Lapa mas impecável, antiga o suficiente para um filme do Vasco Santana, e com uns bons close ups usava-se até num take d’Os Maias.
Comprida, larga e luminosa (luz que só Lisboa tem), muito limpa, empedrada, pouco trânsito, Embaixada do Iraque, casa do Embaixador de Inglaterra, “palecetezinhos” arborizados de gente desconhecida, daquela que diz “o dinheiro corre na família há muitas gerações”, prédios novos à antiga, para bolseiros (não os necessitados, os da Bolsa de valores).
O meu prédio era o mais modesto da rua. Ainda assim era muito apresentável, tectos altos, muitas divisões, com vista para o Tejo sobre-telhados (vá, duma janela!). Com as voltas da vida, vieram-me parar às mãos papéis bem giros do meu bisavô, incluindo o documento do aluguer da casa, de 1935.
Lisboa é muito bonita, carago.
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